sábado, agosto 12, 2006

Passados os segundos de auto-questionamento, o retorno à privada de regras

1 Dia desses estava assistindo ao programa "Claro que é rock", no Multishow. Enquanto culpava os VMBs por terem, um dia, levantado a hipótese de que jam sessions poderiam ser uma boa idéia, o apresentador Roberto Frejat projetava constrangimento com uma amadoríssima versão para "Rock the Casbah". Assistindo ao "Claro que é rock" não consegui domar o pensamento de que o rock brasileiro peca por falta de profissionalismo e competência.

Mudei para o canal 52, e no People & Arts passava "Rockstar Supernova" - divertido reality show onde Tommy Lee Jones, Gilby Clarke e Jason Newsted procuram o vocalista para a nova banda que o ex-baixista do Metallica, atual Voivod, já fez questão de, publicamente, colocar entre aspas. Enquanto os candidatos exageravam nas caras de roqueiro louco e no visual previsível, era inevitável pensar no programa como um "American Idol" com guitarras, e ter que admitir que o grande problema do rock americano atual é o excesso de profissionalismo e competência. Ainda assim, preferi continuar vendo "Rockstar Supernova" do que retornar ao "Claro que é rock".

2 Não consigo me decidir se a pessoa debaixo da fantasia de Cauê, o solzinho mascote do Pan Americano, tem o pior trabalho do mundo ou, na verdade, goza, todos os dias, do privilégio de poder se imaginar no palco junto com o Flaming Lips.

3 Não tenho ouvido discos novos. Ainda não terminei de ler "Retrato do artista quando jovem" para poder adicionar o romance de James Joyce à lista dos melhores que já li. Não tenho ido ao cinema com a frequência dos dias de glória. Ainda assim, sinto-me obrigado a confrontar os detratores e defender uma das últimas sessões que frequentei: o novo "Super Homem" (Superman Returns, 2006) é excelente! Bryan Singer mostra, mais uma vez, que domina melhor o universo cinematográfico dos super-heróis do que a maioria de seus pares - sejam os fazedores de filme de capacidade questionável (Brett Ratner e Christopher Nolan) ou mesmo os artistas talentosíssimos que tiveram trajetórias irregulares pelo gênero (Sam Raimi e Robert Rodriguez). Singer comprova as boas impressões marcadas em filmes anteriores (em especial os dois primeiros "X Men", "O aprendiz" e "Os suspeitos") e, se não constrói uma obra-prima, faz um filme de pleno domínio cinematográfico, que pensa o cinema de forma explícita (a bela sequência de Lex Luthor destruindo a cidade feita em maquete, e as referências constantes a outros blockbusters - "Titanic", "Parque dos dinossauros" - não me deixam mentir) e segura as rédeas da ação com toques do mais genuíno melodrama. Além disso faz das cenas de vôo - em um céu silencioso e poético - uma das mais belas declarações cinematográficas do ano.

4 Domingo o Queerstoca no Rio. Embora eu já possa descrever exatamente como será o show - mesmo só tendo visto o Queers uma vez - tenho certeza que vou me divertir. Joe King já cometeu seus deslizes, mas é também autor de algumas das melhores canções das últimas décadas ("Debra Jean" ao vivo faz pensar sobre a beleza da ingenuidade). Prometo passar todo o show do Marky Ramone (que trocará as canções do simpático Answer to your problems - que no Brasil saiu com o título cretino de Don't blame me - por reciclagem de clássicos do Ramones junto com o Tequila Baby) no bar, porque quem apóia safadeza, safado é.