sábado, janeiro 02, 2010

Moving, just keep moving

Sabem quando sua bagunça chegou a tal ponto que a solução mais simples parece ser mudar de apartamento? Não, eu não sei, nunca fiz isso na vida. Mas em casas virtuais a coisa fica relativamente mais simples, e é isso aí: mudei o Fabito's Way de casa. A idéia é aproveitar a mudança para revitalizar o contato com o texto diário, eliminando o peso morto pra ganhar um pouco de leveza. Provavelmente não vai dar certo, mas é sempre divertido ver como fracassarei.

Enfim, mudei seus hábitos de endereço, e procurem-me em fabitosway.wordpress.com; estarei por lá.

terça-feira, dezembro 15, 2009

Dissonata

Coloquei hoje em prática um plano/desejo antigo e criei um blog de análise e apreciação de canções. O nome é Dissonata e a propsta é essa mesmo: destrinchar canções que me movem/emocionam/intrigam, para o bem ou para o mal, tentando detectar como essas sensações são evocadas dentro da estrutura da canção. Por enquanto tem só o texto de apresentação, mas logo mais pretendo subir o primeiro texto de fato. A idéia é manter um ritmo bem frequente de atualizações, e aos poucos formar uma equipe de redatores pro Dissonata. Sugestões e voluntários são mais que bem vindos. Ah e, claro, ajudem a divulgar.

domingo, dezembro 13, 2009

Retratos


Moça de capuz por Carlosmagno Rodrigues, em Andrômeda - A Menina que Fumava Sabão, 2009.

terça-feira, dezembro 08, 2009

Um parágrafo: (500) Dias Com Ela

A bonita abertura de (500) Dias Com Ela é um convite a uma comparação pronta com Regina Spektor – cantora de perceptível bom gosto, mas que muitas vezes condena esse refinamento pela vontade excessiva de ser cute, beirando a caricatura infantil. Mas as comparações prontas são as que menos precisam ser feitas e, nesse caso, passaria bem longe dos méritos e problemas do filme de estréia de Marc Webb – onde a crítica que se isola no fator cute não é mais do que manha de criança tirana. O que parece realmente central é ainda mais óbvio: é um filme feito por um diretor de videoclipes. (500) Dias Com Ela é uma colagem de esquetes, de momentos dó de peito, onde fica difícil até mesmo dizer que o filme “pára” para que elas aconteçam; não há filme a ser interrompido para além das esquetes, dos pequenos fragmentos – no que ele se parece bastante com Em Paris, de Christophe Honoré. O longa é exatamente o acúmulo, a junção dessas partes. O sucesso inconstante de Webb é, aqui, proporcional ao quanto de organicidade ele consegue promover na colagem desses pequenos clipes – algo que está muito bem representado no uso de “Us”, a canção de Regina Spektor que abre o filme, ou no split screen de “expectation/reality”; mas que desanda em licenças poéticas mais grosseiras, como a cena musical ou a intervenção em desenho sobre a cidade. As citações cinematográficas, por outro lado, me parecem bastante vigorosas – do deboche com Bergman à mitologização de Zooey Deschanel, frívola e adorável como a Bernadette, de Les Mistons. Apesar do destempero, (500) Dias Com Ela tem a felicidade maior de indicar que Marc Webb é muito mais competente como diretor de cinema do que de videoclipes.

sexta-feira, novembro 27, 2009

2008 em 10 discos

4- Cut Copy – In Ghost Colours

Em época em que até o mau gosto dos anos 1980 parece em alta novamente – algo que pode ser visto tanto nas cores dos anúncios de uma American Apparel, quanto nas calças à MC Hammer que tomam as ruas da cidade – é fácil subestimar o feito realizado pelo grupo australiano Cut Copy em seu In Ghost Colours. Pois, embora esteja claramente conectado a um sentimento revivalista carnavalesco da década de 1980, In Ghost Colours se faz realmente impressionante por driblar a redução sempre assassina do kitsch, se relacionando com a cultura que lhe interessa com uma frontalidade convicta. Não temos, portanto, a ironia de ponta de língua de um Cansei de Ser Sexy, tampouco o clima cadavérico das festas cariocas que desenterravam Rosana e Sylvinho Blau Blau com traços nojentos de piedade. As referências, aqui, são convivas de uma mesma época; mas elas ganham uma vitalidade inegável justamente por esse diálogo ser direto, frontal e honesto.

In Ghost Colours parece, em diversos sentidos, combinar o que de melhor foi feito na dance music da década de 1980 em único disco. Temos a espinha dorsal mais clara de um New Order, mas apenas para segurar elementos pinçados de outros artistas do gênero: as guitarras lembram Jesus & Mary Chain e até Pixies (“So Haunted” é puro Joey Santiago), as linhas de vocal mais grave ecoam Information Society, a festividade dos tons maiores faz pensar em Erasure, e os teclados são tão marcantes quanto os melhores momentos dos Pet Shop Boys. Não há, portanto, espaço para gracinhas ou terceirizações; aqui, como em Aquele Querido Mês de Agosto, de Miguel Gomes, o que existe é a restauração dos sentidos de um universo que os aproveitadores sem paixão quase condenaram à insignificância. Mas aqui ele aparece vivo, pulsante e feliz. Em In Ghost Colours, o Cut Copy provoca uma ressurreição.

O milagre é mais impressionante pois não existe, no disco, qualquer tentativa de atualizar as convenções por meio de combinações com convenções mais recentes. Pois se há crença de que aquele corpo vive e respira por si só, não há necessidade alguma de amarrá-lo a aparelhos; basta lhe oferecer combustível para que ele saia novamente às ruas, caminhando com as próprias pernas. O Cut Copy consegue isso fazendo algo que nenhuma das bandas que lhe servem de inspiração mais direta parece ter conseguido, nem mesmo em seus melhores momentos (penso em um Technique, por exemplo): escrever um conjunto irretocável de canções. Pois sobra, aqui, uma percepção bastante simples que fugiu a todas as bandas da época: se o disco é para ser uma festa, é preciso que a avalanche de canções seja ininterrupta. Se não temos a genialidade que gerava “Regret”, “Being Boring” ou “Enjoy The Silence”, também não temos os momentos de auto-indulgência, o fascínio tecnológico com os eletrônicos; ou, mais simplesmente, não temos más canções. In Ghost Colours é de uma consistência rara, impressionante e rigorosamente coerente.

Por conta disso, pinçar faixas que se destacam acaba sendo tarefa bem mais difícil do que se espera. O que sobra ao fim da audição é, sobretudo, o prazer da absoluta fluidez do disco, com seus refrões fortíssimos (“Strangers In The Wind”, “Lights and Music”), a pulsação constante do baixo (“Out There On The Ice”), as melodias solares (“Unforgettable Season”, “Feel The Love”) ou simplesmente a firmeza irresistível das batidas (“Hearts On Fire”). São elementos que, apesar da raiz de referencialidade, empurram o disco sempre pra frente, nunca para trás. É um pouco a percepção de que a música de pista é algo que impulsiona ao movimento pelo simples prazer de se estar em movimento, e que para isso precisa – seja pela aproximação das batidas com o ritmo do coração, ou pela frequência rítmica que coordena também a respiração – se manter realmente próxima do corpo para permencer eficaz.


For Dummies
Álbuns do Cut Copy em ordem de preferência

In Ghost Colours (2008)
Bright Like Neon Love (2004)

quarta-feira, novembro 25, 2009

Retratos

Luís Miguel Cintra por João César Monteiro, em Quem Espera por Sapatos de Defunto Morre Descalço, 1970.

terça-feira, novembro 24, 2009

Deixa eu brincar de Develly

Conversa com o amigo e gênio de plantão Daniel Develly, na época em que Aquele Querido Mês de Agosto estava em cartaz no Rio:

Eu: - Tenta ver o filme. É muito bom.
Develly: - E só porque é bom eu tenho que ver?

quarta-feira, novembro 04, 2009

File under hehehe

É no mínimo uma bela piada que, no catálogo da mostra A Elegância de Woody Allen, meu texto sobre Poucas e Boas venha logo depois de um texto do Bruno Medina (ex-tecladista dos Hermanos) sobre o mesmo filme, e que o dele se chame A Doce Dicotomia dos Gênios, e o meu, na página seguinte, comece com esta epígrafe de Ezra Pound:

"Se suas percepções são hipernormais em qualquer parte do espectro, ele [o artista] pode ser de grande utilidade como escritor - embora talvez não de grande 'peso'. Eis onde entra o chamado gênio da pá-virada. O conceito de gênio como próximo da loucura foi cuidadosamente fomentado pelo complexo de inferioridade do público".

Chacun ses três pontinhos.

segunda-feira, outubro 26, 2009

Projeção Digital


O Fórum da Crítica - lista de discussão que reúne críticos de cinema de diversas publicações no país - formulou e publicou um manifesto endereçado aos responsáveis pela projeção digital no Brasil. O texto, que republico abaixo, se tornou um abaixo-assinado online, que pode ser assinado aqui. Minha assinatura já está lá e convido todos que concordarem a assinarem também.

* * *

A projeção digital chegou ao Brasil com a missão de democratizar o acesso aos filmes e libertar os distribuidores da dependência de cópias em 35 milímetros, cuja confecção e transporte são notoriamente caros. A instalação de projetores digitais permitiria ao público assistir a títulos que dificilmente seriam lançados nas condições tradicionais e ainda ofereceria condições para que espectadores situados longe do eixo Rio-São Paulo (onde se concentram quase 50% das salas de cinema do país) tivessem acesso aos mesmos títulos simultaneamente.

O que estamos vendo, no entanto, é uma total falta de respeito ao espectador no que se refere à exibição do filme propriamente dita. As razões são basicamente duas: projeções incapazes de reproduzir fielmente os padrões de cor e textura da obra e/ou projeções incapazes de exibir os filmes no formato em que foram originalmente concebidos. Sem falar no som, que muitas vezes ganha uma reprodução abafada, limitada ao canal central, muito diferente de seu desenho original.

A adoção da projeção digital pelos dois maiores festivais internacionais do Brasil (o Festival do Rio e a Mostra de São Paulo) e por outros festivais do país, infelizmente, não respeitou o que seriam critérios mínimos de qualidade de projeção de filmes em cinema – algo que é observado com atenção em qualquer festival internacional que se preze. Trata-se de uma situação particularmente alarmante tendo em vista o papel de formadores de plateia que esses eventos desempenham.

Sucessivamente, temos visto um autêntico massacre ao trabalho de cineastas, fotógrafos, diretores de arte, figurinistas, técnicos de som e até mesmo de atores. Apenas para citar um exemplo: Les herbes folles, o novo filme de Alain Resnais, originalmente concebido no formato 2:35:1, foi exibido no Festival do Rio, com projeção digital, no formato 1:78. Isso representou o corte da imagem em suas extremidades, resultando em enquadramentos arruinados, movimentos de câmera deformados e rostos dos atores cortados. Um pouco como se A santa ceia, de Leonardo Da Vinci, tivesse suas pontas decepadas, deixando alguns discípulos de Jesus fora de campo – e da história. Para completar o desrespeito, não há qualquer aviso em relação às condições de exibição e o preço cobrado pelo ingresso não sofre qualquer alteração.

Não nos cabe, aqui, pregar a “volta ao 35mm” nem defender determinada resolução mínima para a projeção digital. Sabemos que, se respeitados determinados critérios técnicos – ou seja, se a empresa responsável pela projeção digital receber do distribuidor o master no formato adequado, se o processo de encodamento for feito corretamente, e se os ajustes necessários para a exibição de cada filme forem realizados cuidadosamente –, a projeção digital pode ser uma experiência perfeitamente satisfatória para o espectador.

Não é isso, porém, que tem ocorrido. Exibidores, distribuidores e os fornecedores do serviço da projeção digital são responsáveis pela má qualidade da projeção e coniventes com esse lamentável descaso geral, que tem deixado críticos e amantes de cinema indignados. É um desrespeito ao cinema e aos seus criadores, mas, sobretudo, ao espectador e consumidor final, que saiu de casa e pagou ingresso para ver um filme.

A situação chegou a um ponto intolerável. Pedimos a todos os profissionais envolvidos com a projeção digital que tomem providências para que tais deformações não se repitam.

sábado, setembro 19, 2009

It's that time again
Atualizações finais em negrito

Começaram as cabines de imprensa do Festival do Rio 2009. Este ano, estou frequentando as sessões que consigo conciliar com a Semana dos Realizadores - que também terá cobertura na Cinética. Por conta disso, tive que deixar Bad Lieutenant, de Werner Herzog, para ser visto durante o Festival. Ainda assim, farei aqui o mesmo esquema do ano passado: até o fim do Festival eu volto com atualizações diárias, com breves comentários sobre os filmes vistos. Por questão de hábito, continuo com minhas cotações de 1/10, como faço no imdb e no meu Twitter. Espero que sirvam pra alguém. E, claro, críticas mais detidas poderão ser lidas nas atualizações diárias da Cinética.

7/10 - Distrito 9 (District 9)
de Neill Blomkamp (2009, EUA/ Nova Zelândia)

Tem poucos momentos que me engajam realmente, mas é um filme muito mais consciente de seus joguetes com novas mídias do que REC ou Cloverfield.

6/10 - A Terceira Parte do Mundo (La troisième partie du monde)
de Eric Forestier (2008, França)

Uma instigante e nem sempre bem resolvida releitura fantástica de Vive l'amour, de Tsai Ming-liang.

5/10 - Salamandra
de Pablo Aguero (2008, Argentina/ França/ Alemanha)

O filme faz interessantes jogos de ponto-de-vista no começo - que rende, ao menos, um belíssimo plano - mas eles não resistem à sujeira e à sordidez.

8/10 - The Time That Remains
de Elia Suleiman (2009, Reino Unido/ França/ Itália/ Bélgica)

Um contraplano da história.

9/10 - White Material
de Claire Denis (2009, França)

Em breve, crítica minha na Cinética.

9/10 - Morrer Como Um Homem
de João Pedro Rodrigues (2009, Portugal/França)

Exibido na janela correta, sem cortar as cabeças dos atores, é provável que seja uma obra-prima. Tem, seguramente, o plano mais inesquecível de todo o festival.

3/10 - The White Ribbon (Das Weibe Band)
de Michael Haneke (2009, Áustria/ Alemanha/ França/ Itália)

Com crítica minha na Cinética.

9/10 - Bastardos Inglórios (Inglorious Basterds)
de Quentin Tarantino (2009, EUA)

Mais um grande filme de Quentin Tarantino.

2/10 - O Amor Segundo B. Schianberg
de Beto Brant (2009, Brasil)

Constrangedor.

7/10 - Tyson
de James Toback (2008, EUA)

Com crítica minha na Cinética.

6/10 - Porco Cego Quer Voar (Babi buta yang ingin terbang)
de Edwin (2009, Indonésia)

Mesmo ainda um tanto derivativo de Apichatpong Weerasethakul e Tsai Ming-liang, rendeu um alívio genuinamente instigante no meio do Festival.

7/10 - Ricky
de François Ozon (2009, França)

Um filme bonito, de triste leveza. Não vi todos os filmes de Ozon, mas Ricky é o favorito entre os que assisti.

6/10 - Katalin Varga
de Peter Strickland (2009, Romênia/ Reino Unido/ Hungria)

Com crítica minha na Cinética.

7/10 - Bad Lieutenant: Port of Call New Orleans
de Werner Herzog (2009, EUA)

Propositalmente desequilibrado, e ainda assim um filme infinitamente mais forte do que O Sobrevivente.

6/10 - Politist, Adj.
de Corneliu Porumboiu (2009, Romênia)

Os problemas de Politist, Adj. estão no mesmo lugar de seus méritos: é um filme onde tudo se justifica conceitualmente. É difícil não admirar a coesão do projeto, o que não significa que ele seja sempre bem sucedido.

6/10 - Ainda a Caminhar (Aruitemo aruitemo)
de Hirozaku Kore-eda (2008, Japão)

Com crítica minha na Cinética.

6/10 - Queridinho da Mamãe (Momma's Man)
de Azazel Jacobs (2009, EUA)

O diretor lida com uma questão central fortíssima, mas nem sempre extrai dela sua maior potência.

7/10 - Tulpan
de Sergei Dvortsevoy (2008, Cazaquistão/Rússia)

Embora perca o rumo em alguns momentos, sempre que se encontra rende planos inesquecíveis.

8/10 - Vincere
de Marco Bellocchio (2009, Itália/França)

Logo mais, com crítica minha na Cinética.

7/1o - O Dia da Transa (Humpday)
de Lynn Shelton (2009, EUA)

Com crítica minha na Cinética.

7/10 - O Pai dos meus Filhos (Le pére de mes enfants)
de Mia Hansen-Love (2009, França)

A intimidade que Mia Hansen-Love promove entre suas personagens é admirável. Provavelmente ganharia nota maior se, não bastasse o final aberto, a diretora resistisse à tentação da mão pesada, e não colocasse "Que Será Será" na trilha-sonora.

7/10 - O Rei da Fuga (Le roi de l'évasion)
de Alain Guiraudie (2009, França)

Certamente bateria mais forte fora do clima festivalesco, mas Guiraudie fez mesmo um filme divertidíssimo.

3/10 - Marching Band
de Claude Miller (2009, França)

Uma pane no sistema de luz do Estação encerrou a projeção uns 5 minutos antes do final. Ainda assim, já dava pra perceber que toda a força cinematográfica extraída das fanfarras era prontamente anulada pelo recorte simplista das entrevistas.

4/10 - Hotel Atlântico
de Suzana Amaral (2009, Brasil)

O filme de Suzana Amaral impressionou bastante gente boa, mas não me pareceu muito acima do passável. Quando João Miguel entra em cena, Hotel Atlântico cresce bastante, mas não o suficiente para se fazer realmente memorável.

6/10 - Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo
de Karim Ainouz e Marcelo Gomes (2009, Brasil)

Assim como em O Céu de Suely, o filme deixa de ser grande pelo excesso de zelo em levar suas opções às últimas consequências.

9/10 - As Praias de Agnès (Les plages d'Agnès)
de Agnès Varda (2008, França)

De uma falta de pudor desconcertante e linda.

6/10 - O Desinformante! (The Informant!)
de Steve Soderbergh (2009, EUA)

Soderbergh voltando ao terreno que melhor lhe cabe, mesmo não atingindo, aqui, resultados tão fortes quanto na série dos 11, 12, 13 Homens.

5/10 - Erótica Aventura (À L'aventure)
de Jean-Claude Brisseau (2009, França)

Embora me pareça um filme melhor que Os Anjos Exterminadores, vem pra provar que - com a consciência de todas as piadas que isso pode gerar - eu realmente me interesso muito pouco pelo cinema de Brisseau.

7/10 - Viagem aos Pirineus (Le voyage aux Pyrénnées)
de Jean-Marie e Arnaud Larrieu

Filme bastante divertido, que logo terá crítica minha publicada na Cinética.

7/10 - 24 City (Er shi si cheng ji)
de Jia Zhang-ke (2008, China/Hong Kong/ Japão)

É um filme bem interessante, embora me impressione mais que cada novo filme de Jia Zhang-ke me pareça um pouco mais fraco que o anterior.

8/10 - Singularidades de uma Rapariga Loura
de Manoel de Oliveira (2009, Portugal/França/Espanha)

Mais um belo filme de Manoel de Oliveira - desta vez, um conto moral - com um punhado de cenas feitas inesquecíveis por sua sempre peculiaríssima mise en scène.

1/10 O Clone Volta Pra Casa (Kurôn wa kokyô wo mezasu)
de Kanji Nakajima (2006, Japão)

As tentativas de imitar Apichatpong Weerasethakul rendem, no máximo, uma outra risada de constrangimento.

8/10 Barba Azul (Barbe Bleue)
de Catherine Breillat (2009, França)

Com algo de Rohmer, Catherine Breillat faz um lindo filme sobre a interação entre mitos e realidade, e especialmente a maneira como cada pessoa responde e confronta o universo da ficção.

O Mercado (Pazar - Bir ticaret masali)
de Ben Hopkins (2008, Alemanha/Turquia/Reino Unido/Casaquistão)

2/10 - Filme bastante fraco, bem desesperado para se fazer forte.

Tóquio! (Tokyo!)
de Michel Gondry, Leos Carax e Bong Joon-ho (2008, França/Japão/Alemanha/Coréia do Sul)


7/10 - Os três episódios têm momentos de bastante força, embora elas venham de lugares diferentes. Rende uma sessão bem interessante.

Jericó (Jerichow)
de Christian Petzold (Alemanha, 2008)

4/10 - O estranho suspense da primeira hora garante um interesse que se esvai por completo à medida em que o jogo do filme fica suficientemente claro.

Arranca-me a Vida (Arráncame la vida)
de Roberto Sneider (México, 2008)

1/10 - Romance histórico modorrento, como Hollywood já não faz há uns 20 anos. Dá pra imaginar uma versão Globo Filmes com Débora Duarte e Antônio Fagundes nos papéis principais.

35 Doses de Rum (35 rhums)
de Claire Denis (França, 2008)

8/10 - Refilmagem de Claire Denis para Pai e Filha, obra-prima de Yasujiro Ozu. Não é do nível de Beau Travail ou Trouble Every Day, mas cresce muito na segunda metade. Alex Descas continua uma das presenças mais assombrosas do cinema contemporâneo.

sexta-feira, setembro 11, 2009

Convite


Amigos, a partir deste domingo - 13/09 - começa uma parceria bacana entre a Cinética e o Instituto Moreira Salles aqui do Rio de Janeiro, promovendo sessões duplas de cinema uma vez ao mês, com entrada gratuita. A curadoria é minha, e dos amigos Rodrigo de Oliveira e Leonardo Sette, e será um prazer receber vocês por lá. Segue abaixo o texto oficial publicado sobre a sessão na Cinética.

* * *

Dia 13 de Setembro, domingo, marcará a estréia da Sessão Cinética. Uma vez ao mês, a Cinética levará dois filmes à tela do cinema do Instituto Moreira Salles, no Rio de Janeiro, abrindo mais um espaço de reflexão e apreciação de filmes fora do circuito exibidor tradicional. As sessões são duplas e começam às 16hs, e a curadoria tem a intenção de programar obras importantes de circulação restrita nas salas brasileiras, respeitando ao máximo as características originais de projeção de cada filme. Além disso, críticos da revista produzirão textos especiais para as sessões – que serão distribuídos no local, e publicados posteriormente aqui – e mediarão um debate após a exibição do segundo filme da noite.

Para a sessão de inauguração, a Cinética programou os filmes Ninotchka, de Ernst Lubitsch; eOndas do Destino, de Lars Von Trier. Ambos os filmes serão exibidos em cópias 35mm, nas janelas corretas de exibição, com legendas em português, e a entrada é gratuita. Estão todos convidados. A próxima sessão será dia 11 de Outubro, e os filmes serão anunciados aqui em breve.

Sessão Cinética - Domingo, 13/09

16hs
Ninotchka, de Ernst Lubitsch (EUA, 1939), 110 minutos


18hs
Ondas do Destino (Breaking the Waves), de Lars Von Trier (Dinamarca, 1996), 159 minutos.

Instituto Moreira Salles
Rua Marquês de São Vicente, 476, Gávea
cep: 22451-040. Rio de Janeiro - rj
Tel.: (21) 3284-7400; Fax: (21) 2239-5559
www.ims.com.br
Ambiente WiFi
Acesso a portadores de necessidades especiais
Estacionamento gratuito no local
Capacidade da sala: 113 lugares

COMO CHEGAR
As seguintes linhas de ônibus passam em frente ao IMS:
- 158 - Central-Gávea (via praça Tiradentes, praia do Flamengo, metrô Botafogo)
- 170 - Rodoviária-Gávea (via Rio Branco, largo do Machado, metrô Botafogo)
- 592 - Leme-São Conrado (via Rio Sul, metrô Botafogo)
- 593 - Leme-Gávea (via Barata Ribeiro, Prudente de Morais, Bartolomeu Mitre)

terça-feira, setembro 08, 2009

After the flood


Na foto de Robert Polidori (ainda em exposição imperdível no Instituto Moreira Salles), uma das tensões essenciais da composição visual aparece de maneira sintética. Temos, acima, uma foto jornalística sem título, tirada em New Orleans, pouco depois da passagem do Katrina. Mais do que registrar a desordem, Polidori percebe o rigor do pôr-em-cena do caos: os carros, jogados sobre os telhados das casas, fazem triângulos perfeitos em relação ao chão, que rimam com os fios elétricos que equilibram, em contraponto, a parte superior oposta do quadro. A força descomunal da composição vem dessa tensão entre a desordem semântica (carros que não deveriam estar sobre casas), e o rigor extraordinário dos objetos enquanto linhas visuais. Mais do que farejar a ordem decaída, Polidori estabelece um desconforto que é interno à obra de arte, pois oferece a quem olha um questionamento direto da estrutura da própria peça; a crise provocada por e para os valores éticos e estéticos que configuram sua existência.

sábado, agosto 15, 2009

Iggy Pop


"Single Ladies", de Beyoncé, é o mais próximo que a música pop já chegou de reinventar "Lust For Life".

sábado, agosto 08, 2009

Um parágrafo: Inimigos Públicos


Inimigos Públicos é, por mais improvável que isso pareça, um filme de contenção cinematográfica. Em cada plano, ou em cada gesto de seus atores, Michael Mann chega ao momento pregnante ideal; o enquadramento perfeito, a rima visual/semântica perfeita (o exemplo mais claro sendo a do sinal vermelho que atravanca a fuga de Dillinger com a lâmpada lateral - também vermelha e redonda, mas apagada - do carro da polícia), o olhar mais expressivo; mas tudo é fugidio, dispersado pelo balançar da câmera, pelo alto giro da decupagem, pelos cortes bruscos. É, sobretudo, um filme anti-exibicionista, como se a cada plano Mann esbarrasse na perfeição de enquadramento de um Tsai Ming-liang, mas assumisse que permanecer nela seria soberba. É um filme que aponta sempre para fora, ao mesmo tempo que ressalta tudo como construção (sensação ressaltada pela textura do vídeo), como ética realizadora. O brilho do filme é um pouco como seus tiros de metralhadora: violento, intenso e absolutamente fugaz.

segunda-feira, julho 20, 2009

A produção da distância

Untitled (1988/90), de Zoe Leonard;

em exposição em The Female Gaze - Women Look At Women, na Cheim & Read Gallery



A artista que vê o conceito "mulher" por meio da arte. Fotografar um quadro. Ressaltar, com isso, as camadas deformadoras de distância e de discurso. Tirar a cor da tinta. Reenquadrar. Colar-se à tela. Alterar a matéria - a cor, o recorte - mas, principalmente, seu estatuto. Fotografar um quadro é fotografar a tinta seca, porosa, rachada pelos anos. Produzir textura. Produzir pele. Como Chantal Akerman, Pedro Costa, ou Grindhouse, perceber o meio como gerador de sentidos. Revitalizar o antigo; transformar pelo simples deslocamento da reprodução. Pensar, sobretudo, o espaço intransferível e intransponível entre os olhares - quem olha a foto, de quem olhava a pintura, de quem olhava a mulher. A tela é a pele, é o tema, é o centro de interesse. Ao mesmo tempo, a pele é a tela, a mulher é a matéria do discurso. A mulher feita obra de arte; a obra de arte feita mulher.