sábado, setembro 19, 2009

It's that time again
Atualizações finais em negrito

Começaram as cabines de imprensa do Festival do Rio 2009. Este ano, estou frequentando as sessões que consigo conciliar com a Semana dos Realizadores - que também terá cobertura na Cinética. Por conta disso, tive que deixar Bad Lieutenant, de Werner Herzog, para ser visto durante o Festival. Ainda assim, farei aqui o mesmo esquema do ano passado: até o fim do Festival eu volto com atualizações diárias, com breves comentários sobre os filmes vistos. Por questão de hábito, continuo com minhas cotações de 1/10, como faço no imdb e no meu Twitter. Espero que sirvam pra alguém. E, claro, críticas mais detidas poderão ser lidas nas atualizações diárias da Cinética.

7/10 - Distrito 9 (District 9)
de Neill Blomkamp (2009, EUA/ Nova Zelândia)

Tem poucos momentos que me engajam realmente, mas é um filme muito mais consciente de seus joguetes com novas mídias do que REC ou Cloverfield.

6/10 - A Terceira Parte do Mundo (La troisième partie du monde)
de Eric Forestier (2008, França)

Uma instigante e nem sempre bem resolvida releitura fantástica de Vive l'amour, de Tsai Ming-liang.

5/10 - Salamandra
de Pablo Aguero (2008, Argentina/ França/ Alemanha)

O filme faz interessantes jogos de ponto-de-vista no começo - que rende, ao menos, um belíssimo plano - mas eles não resistem à sujeira e à sordidez.

8/10 - The Time That Remains
de Elia Suleiman (2009, Reino Unido/ França/ Itália/ Bélgica)

Um contraplano da história.

9/10 - White Material
de Claire Denis (2009, França)

Em breve, crítica minha na Cinética.

9/10 - Morrer Como Um Homem
de João Pedro Rodrigues (2009, Portugal/França)

Exibido na janela correta, sem cortar as cabeças dos atores, é provável que seja uma obra-prima. Tem, seguramente, o plano mais inesquecível de todo o festival.

3/10 - The White Ribbon (Das Weibe Band)
de Michael Haneke (2009, Áustria/ Alemanha/ França/ Itália)

Com crítica minha na Cinética.

9/10 - Bastardos Inglórios (Inglorious Basterds)
de Quentin Tarantino (2009, EUA)

Mais um grande filme de Quentin Tarantino.

2/10 - O Amor Segundo B. Schianberg
de Beto Brant (2009, Brasil)

Constrangedor.

7/10 - Tyson
de James Toback (2008, EUA)

Com crítica minha na Cinética.

6/10 - Porco Cego Quer Voar (Babi buta yang ingin terbang)
de Edwin (2009, Indonésia)

Mesmo ainda um tanto derivativo de Apichatpong Weerasethakul e Tsai Ming-liang, rendeu um alívio genuinamente instigante no meio do Festival.

7/10 - Ricky
de François Ozon (2009, França)

Um filme bonito, de triste leveza. Não vi todos os filmes de Ozon, mas Ricky é o favorito entre os que assisti.

6/10 - Katalin Varga
de Peter Strickland (2009, Romênia/ Reino Unido/ Hungria)

Com crítica minha na Cinética.

7/10 - Bad Lieutenant: Port of Call New Orleans
de Werner Herzog (2009, EUA)

Propositalmente desequilibrado, e ainda assim um filme infinitamente mais forte do que O Sobrevivente.

6/10 - Politist, Adj.
de Corneliu Porumboiu (2009, Romênia)

Os problemas de Politist, Adj. estão no mesmo lugar de seus méritos: é um filme onde tudo se justifica conceitualmente. É difícil não admirar a coesão do projeto, o que não significa que ele seja sempre bem sucedido.

6/10 - Ainda a Caminhar (Aruitemo aruitemo)
de Hirozaku Kore-eda (2008, Japão)

Com crítica minha na Cinética.

6/10 - Queridinho da Mamãe (Momma's Man)
de Azazel Jacobs (2009, EUA)

O diretor lida com uma questão central fortíssima, mas nem sempre extrai dela sua maior potência.

7/10 - Tulpan
de Sergei Dvortsevoy (2008, Cazaquistão/Rússia)

Embora perca o rumo em alguns momentos, sempre que se encontra rende planos inesquecíveis.

8/10 - Vincere
de Marco Bellocchio (2009, Itália/França)

Logo mais, com crítica minha na Cinética.

7/1o - O Dia da Transa (Humpday)
de Lynn Shelton (2009, EUA)

Com crítica minha na Cinética.

7/10 - O Pai dos meus Filhos (Le pére de mes enfants)
de Mia Hansen-Love (2009, França)

A intimidade que Mia Hansen-Love promove entre suas personagens é admirável. Provavelmente ganharia nota maior se, não bastasse o final aberto, a diretora resistisse à tentação da mão pesada, e não colocasse "Que Será Será" na trilha-sonora.

7/10 - O Rei da Fuga (Le roi de l'évasion)
de Alain Guiraudie (2009, França)

Certamente bateria mais forte fora do clima festivalesco, mas Guiraudie fez mesmo um filme divertidíssimo.

3/10 - Marching Band
de Claude Miller (2009, França)

Uma pane no sistema de luz do Estação encerrou a projeção uns 5 minutos antes do final. Ainda assim, já dava pra perceber que toda a força cinematográfica extraída das fanfarras era prontamente anulada pelo recorte simplista das entrevistas.

4/10 - Hotel Atlântico
de Suzana Amaral (2009, Brasil)

O filme de Suzana Amaral impressionou bastante gente boa, mas não me pareceu muito acima do passável. Quando João Miguel entra em cena, Hotel Atlântico cresce bastante, mas não o suficiente para se fazer realmente memorável.

6/10 - Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo
de Karim Ainouz e Marcelo Gomes (2009, Brasil)

Assim como em O Céu de Suely, o filme deixa de ser grande pelo excesso de zelo em levar suas opções às últimas consequências.

9/10 - As Praias de Agnès (Les plages d'Agnès)
de Agnès Varda (2008, França)

De uma falta de pudor desconcertante e linda.

6/10 - O Desinformante! (The Informant!)
de Steve Soderbergh (2009, EUA)

Soderbergh voltando ao terreno que melhor lhe cabe, mesmo não atingindo, aqui, resultados tão fortes quanto na série dos 11, 12, 13 Homens.

5/10 - Erótica Aventura (À L'aventure)
de Jean-Claude Brisseau (2009, França)

Embora me pareça um filme melhor que Os Anjos Exterminadores, vem pra provar que - com a consciência de todas as piadas que isso pode gerar - eu realmente me interesso muito pouco pelo cinema de Brisseau.

7/10 - Viagem aos Pirineus (Le voyage aux Pyrénnées)
de Jean-Marie e Arnaud Larrieu

Filme bastante divertido, que logo terá crítica minha publicada na Cinética.

7/10 - 24 City (Er shi si cheng ji)
de Jia Zhang-ke (2008, China/Hong Kong/ Japão)

É um filme bem interessante, embora me impressione mais que cada novo filme de Jia Zhang-ke me pareça um pouco mais fraco que o anterior.

8/10 - Singularidades de uma Rapariga Loura
de Manoel de Oliveira (2009, Portugal/França/Espanha)

Mais um belo filme de Manoel de Oliveira - desta vez, um conto moral - com um punhado de cenas feitas inesquecíveis por sua sempre peculiaríssima mise en scène.

1/10 O Clone Volta Pra Casa (Kurôn wa kokyô wo mezasu)
de Kanji Nakajima (2006, Japão)

As tentativas de imitar Apichatpong Weerasethakul rendem, no máximo, uma outra risada de constrangimento.

8/10 Barba Azul (Barbe Bleue)
de Catherine Breillat (2009, França)

Com algo de Rohmer, Catherine Breillat faz um lindo filme sobre a interação entre mitos e realidade, e especialmente a maneira como cada pessoa responde e confronta o universo da ficção.

O Mercado (Pazar - Bir ticaret masali)
de Ben Hopkins (2008, Alemanha/Turquia/Reino Unido/Casaquistão)

2/10 - Filme bastante fraco, bem desesperado para se fazer forte.

Tóquio! (Tokyo!)
de Michel Gondry, Leos Carax e Bong Joon-ho (2008, França/Japão/Alemanha/Coréia do Sul)


7/10 - Os três episódios têm momentos de bastante força, embora elas venham de lugares diferentes. Rende uma sessão bem interessante.

Jericó (Jerichow)
de Christian Petzold (Alemanha, 2008)

4/10 - O estranho suspense da primeira hora garante um interesse que se esvai por completo à medida em que o jogo do filme fica suficientemente claro.

Arranca-me a Vida (Arráncame la vida)
de Roberto Sneider (México, 2008)

1/10 - Romance histórico modorrento, como Hollywood já não faz há uns 20 anos. Dá pra imaginar uma versão Globo Filmes com Débora Duarte e Antônio Fagundes nos papéis principais.

35 Doses de Rum (35 rhums)
de Claire Denis (França, 2008)

8/10 - Refilmagem de Claire Denis para Pai e Filha, obra-prima de Yasujiro Ozu. Não é do nível de Beau Travail ou Trouble Every Day, mas cresce muito na segunda metade. Alex Descas continua uma das presenças mais assombrosas do cinema contemporâneo.

sexta-feira, setembro 11, 2009

Convite


Amigos, a partir deste domingo - 13/09 - começa uma parceria bacana entre a Cinética e o Instituto Moreira Salles aqui do Rio de Janeiro, promovendo sessões duplas de cinema uma vez ao mês, com entrada gratuita. A curadoria é minha, e dos amigos Rodrigo de Oliveira e Leonardo Sette, e será um prazer receber vocês por lá. Segue abaixo o texto oficial publicado sobre a sessão na Cinética.

* * *

Dia 13 de Setembro, domingo, marcará a estréia da Sessão Cinética. Uma vez ao mês, a Cinética levará dois filmes à tela do cinema do Instituto Moreira Salles, no Rio de Janeiro, abrindo mais um espaço de reflexão e apreciação de filmes fora do circuito exibidor tradicional. As sessões são duplas e começam às 16hs, e a curadoria tem a intenção de programar obras importantes de circulação restrita nas salas brasileiras, respeitando ao máximo as características originais de projeção de cada filme. Além disso, críticos da revista produzirão textos especiais para as sessões – que serão distribuídos no local, e publicados posteriormente aqui – e mediarão um debate após a exibição do segundo filme da noite.

Para a sessão de inauguração, a Cinética programou os filmes Ninotchka, de Ernst Lubitsch; eOndas do Destino, de Lars Von Trier. Ambos os filmes serão exibidos em cópias 35mm, nas janelas corretas de exibição, com legendas em português, e a entrada é gratuita. Estão todos convidados. A próxima sessão será dia 11 de Outubro, e os filmes serão anunciados aqui em breve.

Sessão Cinética - Domingo, 13/09

16hs
Ninotchka, de Ernst Lubitsch (EUA, 1939), 110 minutos


18hs
Ondas do Destino (Breaking the Waves), de Lars Von Trier (Dinamarca, 1996), 159 minutos.

Instituto Moreira Salles
Rua Marquês de São Vicente, 476, Gávea
cep: 22451-040. Rio de Janeiro - rj
Tel.: (21) 3284-7400; Fax: (21) 2239-5559
www.ims.com.br
Ambiente WiFi
Acesso a portadores de necessidades especiais
Estacionamento gratuito no local
Capacidade da sala: 113 lugares

COMO CHEGAR
As seguintes linhas de ônibus passam em frente ao IMS:
- 158 - Central-Gávea (via praça Tiradentes, praia do Flamengo, metrô Botafogo)
- 170 - Rodoviária-Gávea (via Rio Branco, largo do Machado, metrô Botafogo)
- 592 - Leme-São Conrado (via Rio Sul, metrô Botafogo)
- 593 - Leme-Gávea (via Barata Ribeiro, Prudente de Morais, Bartolomeu Mitre)

terça-feira, setembro 08, 2009

After the flood


Na foto de Robert Polidori (ainda em exposição imperdível no Instituto Moreira Salles), uma das tensões essenciais da composição visual aparece de maneira sintética. Temos, acima, uma foto jornalística sem título, tirada em New Orleans, pouco depois da passagem do Katrina. Mais do que registrar a desordem, Polidori percebe o rigor do pôr-em-cena do caos: os carros, jogados sobre os telhados das casas, fazem triângulos perfeitos em relação ao chão, que rimam com os fios elétricos que equilibram, em contraponto, a parte superior oposta do quadro. A força descomunal da composição vem dessa tensão entre a desordem semântica (carros que não deveriam estar sobre casas), e o rigor extraordinário dos objetos enquanto linhas visuais. Mais do que farejar a ordem decaída, Polidori estabelece um desconforto que é interno à obra de arte, pois oferece a quem olha um questionamento direto da estrutura da própria peça; a crise provocada por e para os valores éticos e estéticos que configuram sua existência.