quarta-feira, junho 07, 2006

I see you, you see the grizzly man

1 Quando vi pela primeira vez o simpático clipe de "Forever Lost", a inegável fofura (musical e visual) do Magic Numbers não me convenceu a buscar outras canções da banda. Alguns meses se passaram até que eu topasse novamente com eles, em mais uma de minhas caminhadas televisivas. Dessa vez, porém, a banda cantava ao vivo, no programa Top of the Pops, uma singela canção chamada "I see you, you see me". Guardei no topo da memória a vontade de conhecer melhor o trabalho da banda, e poucos dias depois o disco de estréia do Magic Numbers já me acompanhava em meu carro.

The Magic Numbers, o disco, passa longe de ser obra-prima. Embora os irmãos Stodart e Gannon (a banda é composta por dois casais de irmãos, todos rechonchudos, tornando a comparação com The Mamas & The Papas ainda mais óbvia) crivem músicas de inegável talento, o disco por diversas vezes parece se arrastar para além do necessário (13 músicas em pouco mais de uma hora de música). Porém, em seus momentos mais inspirados, o Magic Numbers consegue revitalizar elementos do passado com uma espontaneidade comovente.

É o caso de "I see you, you see me", sem dúvida a mais bela fatia do disco de estréia dos irmãos. Para além de ser uma belíssima canção, "I see you, you see me" chama atenção exatamente por desenterrar uma forma defunta e torna-la novamente pertinente: trata-se do mais clássico dueto. Não me lembro qual foi a última vez que ouvi um dueto que se aproximasse com tanta propriedade do formato mais tradicional, sem com isso soar datado de nascença. Irmão e irmã Stodart dividem os vocais em uma canção doce porém forte, simples porém profunda, e retiram brilho justamente do encontro (e da alternância) das vozes. Resgatando um formato que por muitas vezes pareceu condenado, o Magic Numbers consegue a proeza de compor uma canção que, logo nas primeiras audições, parece estar por aí há tempo o suficiente para não nos lembrarmos de como era a vida sem ela.


2 Assim como não tenho tido tempo de atualizar o blog, passei as últimas semanas sem praticamente pisar em uma sala de cinema. Ainda não vi "X-Men III", tampouco filmes que tinha curiosidade de ver, como os novos de Win Wenders e Terrence Malick. Até hoje sigo em débito com a grande maioria dos indicados ao Oscar, desde o bafafá dos cowboys gays de Ang Lee, até o filme preto e branco do ano. Recentemente tentei me reaproximar das salas vendo "A lula e a baleia" (de Noah Baumbach) que, embora fraco e inofensivo, me proporcionou novamente o prazer de estar sentado em uma sala de cinema. Ainda assim, faltava combinar o prazer do estar com o de ver, encontro raro que se deu no sábado, quando fui assistir a "O homem urso" (Grizzly Man, 2005), último filme do alemão Werner Herzog lançado no Brasil.

Conheço pouquíssimos filmes de Herzog, diretor famoso por (além de sua excentricidade) filmes como "O enigma de Kaspar Hauser", "Aguirre: cólera dos deuses" e o remake de "Nosferatu" (obra-prima de F.W. Murnau) e por uma sólida carreira como documentarista. "O homem urso" deu bolo no último festival do Rio, teve sessões conturbadas no último É Tudo Verdade, e chega, finalmente, às telas do circuito carioca. A premissa já é sensacional: Herzog tem à sua disposição 100 horas de material gravado pessoalmente por Timothy Treadwell, ambientalista que durante 13 anos passou seus verões em uma planície do Alaska, convivendo com os ursos pardos. Treadwell desenvolve uma série de técnicas de aproximação dos ursos, e seus constantes avisos do perigo de sua aproximação se fecham em ironia quando descobrimos que, em seu décimo terceiro verão por lá (no caso, o de 2001), Treadwell e sua namorada acabaram sendo devorados por um dos ursos que ele tanto defendia.

Embora a personalidade de Treadwell já seja atrativa o suficiente para que qualquer um se interesse pelo filme, Herzog a contorna com traços de gênio ao inverter a vida do ambientalista: enquanto Timothy Treadwell usava a si mesmo para falar sobre a natureza, Herzog usa a natureza para descobrir a pessoa para além do ambientalista. Aos poucos descobrimos que a aparente insanidade de Treadwell é, na verdade, uma fachada exagerada para uma pessoa que, como todos nós, apenas buscava um sentido para sua vida. E que, não diferente de todos que se entregam sem relutância à sua paixão, acabou sendo devorado por ela.

"O homem urso" é, seguramente, o segundo filme que vi esse ano que imediatamente guardou sua cadeira no top 10 que faço a cada virada (o primeiro sendo "2046 - Os segredos do amor", do gênio Wong Kar Wai). É um filme sobre uma persona criada na solidão, persona essa que acaba se tornando mais forte que seu criador. Herzog é apenas mais um dos artistas contemporâneos que percebe - de forma muito lúcida - que o pequeno, o particular, o ignorado, é, geralmente, mais comovente do que o macro.

5 comentários:

Anônimo disse...

boa garoto!

Anônimo disse...

THAT'S A BIG BEAR!!

Anônimo disse...

Por incrível que pareça, eu não fui nenhum dos pseudônimos acima!

Depois de ver o filme o Homem Urso (que deveria ser a história de um super herói com o poder de se tornar um urso, ou ainda melhor, um super herói com uma fantasia de urso), agora eu só peço bife de urso nos restaurantes.

E deixo aqui o SUPERDICÃO DO RUBINHO para um dueto: SOMETIMES ALWAYS do Jesus & Mary Chain. Uma das letras mais canalhas que eu já escutei.

P.S.: Eu te amo, urso! Amo todos vocês! (Pô, homem!)

Fábio Andrade disse...

Quando você imagina que NINGUÉM seja canastrão o suficiente para ter coragem de fazer a piada implícita de que "O homem urso" devia ser um filme de super-herói, o Rubinho nos surpreende novamente.

Rubinho - há 31 anos fazendo da internet um lugar melhor para se viver.

Anônimo disse...

O Rubinho cumpre seu papel magnífico: o de ser o único intra-post entre todos os blogues conhecidos.

Também te amo, mas juro que não vou heretizar o post erotizando a possibilidade de te comer. (pô, bicho!)