segunda-feira, abril 24, 2006

Piovani, Demy e a canção da semana

Há algum tempo venho acompanhando, com algum interesse, as mudanças de direcionamento do canal GNT. Embora num primeiro momento as tais mudanças (até onde sei para tentar aumentar a audiência do canal) tenham sido anunciadas como "imperceptíveis para o espectador" pelo canal, aos poucos começamos a notar que a intenção transcendia a saudável troca das vinhetas de jornalismo duro por um visual mais clean e moderno. Aos poucos, as vinhetas passaram a ser tomadas por silhuetas femininas a la propaganda de sabonete, programas de temáticas Marie Claire começaram a pipocar pela grade do canal, e, mais recentemente, abriu-se até uma faixa para filmes que "abordassem a temática feminina". As tais mudanças imperceptíveis fizeram da Globo News Television (sim, o GNT já se chamava Globo News antes da existência da Globo News) "o canal da mulher".

Apesar de uma segmentação por meio de uma generalidade sempre me parecer duvidosa, admito (de forma bem otimista!) não ser isso o determinante da qualidade da programação do canal. Bons programas como "A cozinha de Oliver", a faixa fixa de documentários (que várias vezes pende para o jornalismo duro de outrora, mas vez por outra passa boas jóias) e até mesmo o "Marília Gabriela Entrevista" (aproveitei a chance de fazer publicidade do meu programa aqui no blog!) apontam para um lado, enquanto que os documentários caça-níqueis sobre paparazzis, e o desserviço de programas como "Superbonita", "Nós & Eles" e "Mulher Solteira Procura" (sem dúvida o pior dos três) constroem uma visão no mínimo questionável do tal "universo feminino". Esse mesmo olhar que move revistas como "Capricho" ou "Marie Claire", que é pseudo-intelectualizado por programas como "Sex and the city", que ilude-se de uma intenção feminista e acaba por exaltar um machismo consentido, parecia comer um dos melhores canais da tv brasileira pelas beiradas. Não à toa, assim que o GNT se admitiu como "o canal da mulher", não tardou a ser criado o FX, "o canal do homem".

Tenho sobrevivido bem a essa mulher que o GNT tenta agradar/construir/promover, embora mantenha com ela uma relação estritamente televisiva (quando muito). Até que na última semana, enquanto alternava entre um sofrível jogo do Flamengo na Globo e a versão brasileira do "American Idol" no SBT (combinação que só perde em inusitado para o dia em que emendei uma sessão de "Nascido para matar" com "Queer eye for the straight guy"), dei um pulo no 41 para espiar o que a diversidade feminina discutia no "Saia Justa". Se a hostilidade velada (porém visível) entre Fernanda Young e Marina garantia um mínimo de interesse no elenco passado, com a reformulação da equipe o "Saia Justa" caiu de vez na completa irrelevância. E quando ia retornar para os comentários do Miranda, Luana Piovani perguntou a suas colegas (cito de cabeça): vocês ficam muito decepcionadas quando pegam um cara que tem o pau fino? .

Juro que até em meus momentos mais pudicos fujo do moralismo, portanto não entrarei (já entrando) no mérito de que a frase de Luana Piovani foi o que de mais grosseiro ouvi na televisão (em horário nobre, ainda por cima) em um programa que parece se levar com um mínimo de seriedade. O que me surpreendeu, após os minutos de incontornável constrangimento que tive como espectador, foi perceber que nunca tinha ouvido um homem falar de forma tão desrespeitosa sobre uma mulher. Até mesmo em programas chauvinistas como "It’s a man’s world", ou nas conversas menos dignas que já entreouvi nessa vida, não me recordo de já ter ouvido um homem associar uma particularidade estritamente anatômica com performance, ou algo do tipo. As proporções podem agradar mais ou menos, mas limitam-se enquanto preferências. Afinal, o contrário seria como zombar do aleijado!

Luana Piovani - que até então eu acreditava ser somente burra, mas desde então estou convencido ser pessoa da pior categoria - chegou ao ponto de dizer que avisava as amigas quando pegava um cara de pau fino! "Iiihhhh, não pega ele não porque o cara tem pau fino!". Beth Lago, a inteligência descolada do programa, admitiu ter terminado um relacionamento com uma pessoa (afinal, quem é da televisão sempre diz ter um relacionamento com uma "pessoa", porque definir seria preconceito, mesmo quando o assunto é o pau da "pessoa") "super bacana" (as pessoas da tv também adoram falar "super") por conta do diâmetro. Atordoado com Luana, a discussão sobre covinhas no "SuperBonita", as solteironas que sempre terminam seu dia flertando em uma happy hour no Outback no "Mulher Solteira Procura" (que, pouco depois, exibiria um episódio sobre uma mulher cuja maior satisfação era sentar numa livraria, pedir um café, acender um cigarro e ler um livro fazendo ar blasé - palavras dela!), o enrustido "Contemporâneo", nada disso me pareceu mais abjeto, e sim simples futilidades. Obrigado Luana, por ter tornado todo o resto da programação do "canal da mulher" menos ultrajante.

* * *

Por outro lado, é claro que só escrevi tudo isso porque eu tenho pau fino...


* * *

Quem mora no Rio não pode perder a oportunidade de assistir no cinema Pele de Asno, clássico de 1970 dirigido por Jacques Demy e relançado em circuito na cidade pelo Grupo Estação. Além de o trabalho de cor absolutamente extraordinário de Demy (que atingira o ápice com "Os guarda-chuvas do amor", filme que ficou famoso por ter rigorosamente todos os seus diálogos musicados) brilhar de forma mais impressionante na película estalando de nova (fujam das salas exibindo o filme em projeção digital!), e das músicas sempre cativantes de Michel Legrand (que consegue fazer uma receita de bolo - literalmente: ovo, leite, farinha, etc - soar encantadora na boca de Catherine Deneuve), é extremamente curioso ver como um diretor ligado às vanguardas - no caso, a nouvelle vague francesa - trabalhou um gênero tão difícil - aqui, a fábula infantil. Jacques Demy foi um esteta muito particular, e "Pele de Asno" antecipa traços que seriam aprofundados pelo cinema posteriormente, ecoando em especial no trabalho de Tim Burton.

* * *

"Quando deus te desenhou, ele tava namorando".

7 comentários:

Anônimo disse...

Maldito! Você estragou minha piada ao assumir que tem pau fino!

Luana Piovani

Anônimo disse...

o que mais esperar da televisão brasileira"!?
hahahahhahha
essa musica! lol Mmeu amigo nao parava de cantar no meu ouvido!!!!
Uma pena eu ser tão leigo quando o assunto é cinema...

Fábio Andrade disse...

Luana, você não percebeu que os posts do blog só servem para eu demonstrar minha habilidade em prever piadas?

Anônimo disse...

E pensar que definitivamente confirmei que não vou comer a Luana.

Fábio Andrade disse...

tá com medo de ela espalhar pras amigas, capilé?

Anônimo disse...

Quando deus te desenhou...até agora na cabeça 0/

Anônimo disse...

Fábio, não exatamente o medo do espalhe para as amigas, mas do espalhe para o Brazil cabeado.

Outra coisa tenebrosa de se descobrir por meio de notícias assim é a estatura peniana de figuras como Paulinho Vilhena, Rodrigo Santoro e equivalentes...

Fico imaginando se ela fosse a Deborah Secco e tatuasse o nome dos amantes; para não esquecer quem tem boa, média ou baixa bitola tatuaria em partes diversas dos membros os nomes ou apelidos qeu caracterizassem as figuras.

Mas que foi uma dor a confirmação do não acontecimento de um evento erótico com o pequeno príncipe, isso foi.