quinta-feira, dezembro 27, 2007

Top 5 da semana

Em meio à confusão de natal+aniversário (já aceito parabéns nos comentários, embora espere ainda postar isso no dia 26)+passagem de ano, resolvi deixar cá uma última listinha, antecipando a listona que abre todo novo ano aqui, no Fabito's Way. Logo nos primeiros dias de 2008, portanto, começo a eleger meus melhores por cá – filmes primeiro, discos em seguida, como no ano passado. Depois de quatro necessários dias de descanso em Barra Mansa, encerrei meu 25 tentando matar a alergia crônica com os últimos copos de chope do barril do Natal, enquanto seguia quitando – pau-la-ti-na-men-te – minha dívida com o Rohmer. Foi uma belíssima maneira de enterrar o feriado, e não deixei de me enfurecer com essa vida ingrata de trabalhos fixos que não permitem realizar a vontade de ficar, por um dia ou dois mais, onde eu realmente gostaria de estar. Espero que no ano que vem eu consiga extrair os milhões que se escondem nessa carreira de roqueiro em potencial, para poder reclamar com um pouco menos de razão.

Filmes

01 - O Mundo (Shijie) – Jia Zhang-ke


Até hoje só tinha visto "O Mundo" em um rip baixado no eMule. Revendo o filme em um belo dvd área 1, é desnecessário dizer que minhas impressões foram ainda melhores. Jia Zhang-ke me ganhou por completo da primeira vez que vi "Plataforma", e seus filmes seguintes vêm mantendo um nível realmente assustador. O tal World Park, onde ele filma "O Mundo", me parece a locação perfeita para abrigar o misto de fascínio e repúdio que o atual estado de coisas na China põe em movimento dentro do diretor. É, de fato, um filme absolutamente embasbacante.

02 – Pauline na praia (Pauline à la plage) – Eric Rohmer


De Rohmer, até pouco tempo só conhecia "Conto de verão". Lembro ter visto o filme no cinema, com minha mãe e minha irmã. Elas ficaram extremamente irritadas com a canção do piratinha que alguém começa a cantar lá pela metade do filme, e saíram um pouco aborrecidas. Em mim, o filme deixou impressa a suavidade do desenrolar, a leveza climática, o desapego de Rohmer a tudo que o mundo tende a considerar grande em nome de coisas pequeníssimas. Dia desses me lembrei com carinho dessa sensação, e decidi mergulhar nos filmes do diretor. De fato, a locação de "Pauline na praia" me trouxe de volta – e com muita vivacidade – tudo aquilo que lembro de ter sentido em relação a "Conto de verão". A diferença é que, hoje, o tal apego miúdo de Rohmer me parece projeto de nobreza realmente insuperável. Seus filmes são um prazer só.

03 – Operação França (The French Connection) – William Friedkin


Outra dessas dívidas que ao pouco vou riscando do caderninho, o famosíssimo filme de Friedkin merece tudo que construiu ao longo dos anos. Inclusive "Os donos da noite", filme de James Gray que faz ao menos um par de homenagens a algumas das melhores seqüências do filme. É o tipo de situação em que pai e filho só têm a se orgulhar.

04 – O virgem de 40 anos (The 40 Year Old Virgin) – Judd Apatow


Finalmente vi o director's cut de uma das melhores comédias lançadas nos últimos anos. Mesmo com quase 20 minutos a mais, o ritmo de "O virgem de 40 anos" permanece absolutamente inabalável. Que venha a faixa comentada.

05 – Viver ou morrer (Dead or Alive: Hanzaisha) – Takashi Miike


É uma satisfação ver as filmografias (ou parte delas) de sujeitos tão interessantes quanto Takashi Miike e Johnny To sendo lançada em dvd no Brasil. Os incríveis dez minutos iniciais de "Viver ou morrer" parecem resumir todas as intenções do cinema de Miike, e o fato de o filme conseguir se sustentar depois dessa enxurrada diz muito sobre o talento de Miike como diretor. "Viver ou morrer" é um dos filmes mais extremos e descontrolados de um dos artistas mais extremos e descontrolados dos nossos tempos. Famoso por interesses temáticos peculiarmente desafiadores (só em "Viver ou morrer" temos cenas de bestialidade, escatologia, mutilação, muita droga, muito tiro – até de bazuca – e muito sangue), me impressiona como Miike acaba tendo ignorado seu impressionante talento visual. Vendo "Viver ou morrer", por muitas vezes me senti diante do mais direto herdeiro de Seijun Suzuki.

Canções

01 – "Long way home" – Norah Jones

Nas compras de Natal, me dei de presente o dvd "Norah Jones and the Handsome Band Live", de 2004. Assistindo à belíssima apresentação (filmada sem grande brilho de direção, a não ser pelos bonitos registros em passagem de som) fui surpreendido quando Norah Jones anunciou uma canção do Tom Waits, e logo tocou "Long way home" – uma de minhas faixas favoritas de Feels Like Home, seu melhor álbum. Amaldiçoei o fato de eu não comprar mais cds ou ler sobre tudo que ouço no Allmusic – locais onde posso ter esse tipo de informação de forma muito mais suave. A descoberta, porém, faz todo sentido: embora eu não conheça a versão de Waits (que, ao que parece, só foi lançada em 2006, no seu álbum triplo de sobras), toda a estrutura da canção sugere a interpretação do cantor. O trabalho de Norah Jones, porém, não é menos que extraordinário, e sua voz ganha um belo adorno (timidíssimo, me parece) ao vivo.

02 - "Take me anywhere" – Tegan & Sara

Ainda não fui de todo sugado por The Con – último disco de Tegan & Sara que já vem aparecendo em algumas listas de melhores do ano. The Reason, o anterior, tem canções agradabilíssimas, e "Take me anywhere" é a melhor delas. Além de artistas de talento, as duas canadenses são irmãs gêmeas e lésbicas. Sim, irmãs gêmeas e lésbicas. Se isso é pauta valiosa para qualquer publicação, não sou eu que vou fazer do Fabito's Way uma exceção.

03 – "Silly love songs" – Paul McCartney

Porque Paul McCartney sem vergonha de fazer músicas para discoteca é bom demais para se ignorar.

04 – "Beautiful girl" – INXS

Há muito tempo atrás, estava eu prestes a descer de um táxi quando uma familiar melodia de teclado começa a tocar no rádio. Deu vontade de ficar para ouvir o resto da canção, mas minha fobia de táxis foi mais forte. Meses depois, lá estava eu em minha aula de pilates quando o mesmo teclado encheu a sala. Foi só entrar a voz do Michael Hutchence para eu me lembrar do INXS – banda que nunca me dei ao trabalho de conhecer com um mínimo de cuidado. "Beautiful girl" é, com efeito, uma excelente canção. Logo depois o rádio veio se confirmar como relevante veículo de alegria, e foi vez de o Ben Lee entrar com "Catch my disease". Obrigado Antena 1.

05 - "Life On A Chain" - Pete Yorn

O Pete Yorn é mais famoso por suas covers - uma do Buzzcocks na trilha do segundo Shrek, outra do Ramones naquele álbum tributo de alguns anos atrás - do que por seu trabalho como compositor. Tremenda injustiça. Lá fora, a inclusão de "Strange Condition" na trilha de "Eu, eu mesmo e Irene" fez de musicforthemorningafter - seu primeiro álbum - um razoável sucesso. "Life On A Chain" é a canção que abre o disco, e o faz de maneira brilhante. Uma boa letra e um grande refrão seriam plenamente suficientes, mas ainda temos um solo de baixo surrupiado da cartilha de Peter Hook, que faz par a uma surpreendente intervenção de gaita. Seus discos não são regulares, mas musicforthemorningafter é o que chega mais perto. Ainda assim, Yorn conseguiu cravar um número considerável de faixas memoráveis em seus álbums seguintes. Basta uma audição de "Crystal Village" (de Day I Forgot) ou de "The Man" (de Nightcrawler) para ter certeza de que o talento de Yorn é vítima de grande subestimação.

1 comentários:

Sérgio Alpendre disse...

é engraçado esse negócio de elencar as melhores canções. para quem, como eu, fazia tops de discos todos os dias com os amigos, pensar nas canções isoladas é bem estranho, mas divertido. a internet fez com que voltássemos aos tempos dos singles como referências pops máximas.

ah, o Wings at the Speed of Sound é dos meus McCartneys preferidos