segunda-feira, julho 20, 2009

A produção da distância

Untitled (1988/90), de Zoe Leonard;

em exposição em The Female Gaze - Women Look At Women, na Cheim & Read Gallery



A artista que vê o conceito "mulher" por meio da arte. Fotografar um quadro. Ressaltar, com isso, as camadas deformadoras de distância e de discurso. Tirar a cor da tinta. Reenquadrar. Colar-se à tela. Alterar a matéria - a cor, o recorte - mas, principalmente, seu estatuto. Fotografar um quadro é fotografar a tinta seca, porosa, rachada pelos anos. Produzir textura. Produzir pele. Como Chantal Akerman, Pedro Costa, ou Grindhouse, perceber o meio como gerador de sentidos. Revitalizar o antigo; transformar pelo simples deslocamento da reprodução. Pensar, sobretudo, o espaço intransferível e intransponível entre os olhares - quem olha a foto, de quem olhava a pintura, de quem olhava a mulher. A tela é a pele, é o tema, é o centro de interesse. Ao mesmo tempo, a pele é a tela, a mulher é a matéria do discurso. A mulher feita obra de arte; a obra de arte feita mulher.

7 comentários:

Andre de Freitas Sobrinho disse...

mais um post poético... tá ficando bom nisso.
só faltou um arremate, um punchline... que é sempre neurose de querer rearranjar música dos outros: "a obra feita de arte: mulher".

Fábio Andrade disse...

mas não havia intenção de poesia, na verdade. foi uma transcrição minimamente organizada do que eu escrevi quando vi as fotos. achei que o único tom possível era escrever como pensei, no ritmo do pensamento, sem explicar muita coisa.

Andre de Freitas Sobrinho disse...

mas aí tá o barato de como as coisas nos capturam e, na nossa captura das coisas, organizar todo o visto em discurso. Se há o tom poético, intencional ou nao, há o sentido da consciencia da linguagem 9do visto, co captado, do escrito)... e seus contornos retínicos, sao sim, poéticos.

Fábio Andrade disse...

ah sim. o que quis dizer é que uma construção como a que você sugeriu não me ocorreu porque o viés de aproximação era outro. não que as modalidades de linguagem não possam se misturar, mas sim que isso realmente não me ocorreu.

Andrew W.K. disse...

Boooooriiiiing...

Fábio Andrade disse...

that's gotta hurt!

Anônimo disse...

que delícia.