terça-feira, dezembro 08, 2009

Um parágrafo: (500) Dias Com Ela

A bonita abertura de (500) Dias Com Ela é um convite a uma comparação pronta com Regina Spektor – cantora de perceptível bom gosto, mas que muitas vezes condena esse refinamento pela vontade excessiva de ser cute, beirando a caricatura infantil. Mas as comparações prontas são as que menos precisam ser feitas e, nesse caso, passaria bem longe dos méritos e problemas do filme de estréia de Marc Webb – onde a crítica que se isola no fator cute não é mais do que manha de criança tirana. O que parece realmente central é ainda mais óbvio: é um filme feito por um diretor de videoclipes. (500) Dias Com Ela é uma colagem de esquetes, de momentos dó de peito, onde fica difícil até mesmo dizer que o filme “pára” para que elas aconteçam; não há filme a ser interrompido para além das esquetes, dos pequenos fragmentos – no que ele se parece bastante com Em Paris, de Christophe Honoré. O longa é exatamente o acúmulo, a junção dessas partes. O sucesso inconstante de Webb é, aqui, proporcional ao quanto de organicidade ele consegue promover na colagem desses pequenos clipes – algo que está muito bem representado no uso de “Us”, a canção de Regina Spektor que abre o filme, ou no split screen de “expectation/reality”; mas que desanda em licenças poéticas mais grosseiras, como a cena musical ou a intervenção em desenho sobre a cidade. As citações cinematográficas, por outro lado, me parecem bastante vigorosas – do deboche com Bergman à mitologização de Zooey Deschanel, frívola e adorável como a Bernadette, de Les Mistons. Apesar do destempero, (500) Dias Com Ela tem a felicidade maior de indicar que Marc Webb é muito mais competente como diretor de cinema do que de videoclipes.

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