terça-feira, janeiro 06, 2009

Um parágrafo: Rebobine, Por Favor (Be Kind, Rewind)
de Michel Gondry, 2008

Rebobine, Por Favor é um filme sobre o cinema, mas não no verniz referencial mais pobre que sua premissa ameaça sugerir. O que é mais tocante nesse último trabalho de Gondry é a percepção de que a relação estabelecida mais significativa pelos filmes – como em todas as artes – é com a sua comunidade. Essa comunidade não necessariamente é geográfica, embora seja esse o enfoque escolhido por Gondry: os filmes “suecados” de Jerry (Jack Black) e Mike (Mos Def) se tornam sucessos locais por conferirem às grandes produções uma familiaridade que lhes é exterior. A cultura para as massas é reinterpretada pela memória, e mascara os rostos estranhos com proximidades de quintal. A relação de um jovem francês com o cinema norte-americano. Existe, portanto, a possibilidade de um reconhecimento: os atores são seus vizinhos, as ruas são as suas, a história é a que você mesmo inventou. Por isso, o filme só alcança sua força plena na sequência final: o cinema visto por trás, assim como Elroy Fletcher (Danny Glover) escrevera para si mesmo o aviso na janela do trem, em uma inversão de ótica daquela comunidade que faz nascer uma relação. Uma história inventada, mas assimilada como auto-ficção pela própria cidade quando ela aprende a ler com os olhos de quem a escreve. zzaJ. Ao fim, fica aquela imagem linda e vagabunda da loja-tela onde era projetado, de dentro para fora, o imaginário de uma comunidade. O momento em que o avesso da verdade não é, necessariamente, uma mentira.

* * *

Amanhã – ou assim espero – começo a publicar minhas intermináveis listas de “melhores” de 2008. Aos leitores mais fiéis, asseguro a prática impossibilidade de surpreendê-los. Que as obviedades, ao menos, sejam das boas.

1 comentários:

Anônimo disse...

Sesacional a epígrafe!