quinta-feira, novembro 06, 2008

Contrabando de Formigas

4. The Man On Broadway

São três horas de uma tarde de Julho de 2008, e o sol derrete camadas de asfalto que os carros levam grudadas em suas rodas. Na esquina da Broadway com um número qualquer, o nobre homem trabalha. Veste uma meia-calça branca, sapatos pontudos, paletó de veludo azul escuro com ornamentos dourados, e uma peruca branca de séculos outros. É do branco rosado típico dos caucasianos do norte, e circula a casa dos quarenta anos. Com o peito estufado e o nariz parcamente equilibrado na dignidade de seu rosto, distribui panfletos para os passantes; papéis que convidam para uma peça na qual ele não trabalha. “Parte do elenco; só não no palco”, ele retrucaria. A umidade do ar se esfuzia em uma piada, criando uma corrente de vento que cisma fazer troça do passado, arrancando as madeixas do falso fidalgo. E o pobre nobre corre sem correr - com uma mão segurando a careca e a outra, a pilha de papéis - perseguindo a peruca branca que rodopia em vôo Broadway acima.

0 comentários: