quarta-feira, novembro 12, 2008

Top 5 (de 4) da semana

Em semana de coisas mornas no Curta Cinema, voltamos ao top 5 de 4.

Filmes

1- City Girl
de F.W. Murnau (EUA, 1930) – 10/10

Uma grande curiosidade sanada (City Girl é um dos filmes menos encontráveis de Murnau), e a forte impressão de ter visto não só um filme tão notável quanto Aurora, mas a sua própria cara-metade (e o pai de Dias de Paraíso, do Terrence Malick). City Girl parece uma resposta a todas as vistas nubladas que leram (mal) a obra de Murnau como um discurso conservador, afastando qualquer possibilidade de reduzir seu pensamento a uma mera variação do “paraíso perdido”, mostrando que sua predileção pela alegoria parte de um lugar muito anterior e mais complexo. Além disso, tem a performance de Charles Farrell que, mesmo em pantomima silenciosa, poderia servir como lição de economia interpretativa a 99% do cinema contemporâneo.

2- Tabu (Tabu: A Story of the South Seas)
de F.W. Murnau (EUA, 1931) – 9/10

Último filme de Murnau, nascido de uma frustrada parceria com Robert Flaherty – esse sim, o grande diretor do “paraíso perdido” – e que usa o interesse nativo do documentarista (no caso, a Polinésia Francesa) como princípio para a estória de amor mais dolorosa já filmada pelo realizador alemão. Ainda assim, dribla a fatalidade narrativa com injeções de humor e leveza, fazendo de Tabu um filme prazerosamente trágico de se assistir.

3- Tartufo (Herr Tartuff)

de F.W. Murnau (Alemanha, 1925) – 8/10

Se Fausto me pareceu desequilibrado entre a sobriedade extrema e os momentos de humor, Tartufo sobrevive inteiro por se entregar mais abertamente à comédia. É interessante como Murnau faz questão de movimentar até mesmo as estruturas de gênero tão antigo e bem definido, derrubando a comédia moral com um sorriso irônico ao final.

4- La Belle Personne
de Christophe Honoré (França, 2008) – 7/10

Com título traduzido na cópia como A Bela Junie¸ La Belle Personne é um filme feito por Christophe Honoré para a tv francesa, com ex-adolescentes atuando como pré-adolescentes. Extremamente desigual entre a chatice da idade e o talento do diretor, o telefilme vem reforçar que Honoré é tão mais interessante quanto mais derivativo e referencial. Quando tenta dar conta daquele universo tão múltiplo e móvel, o olhar de Honoré se mostra bastante redutor. Mas sempre que traz para o filme referências à música, à literatura ou ao próprio cinema, não resta dúvida que estamos diante de um dos grandes arquitetos de emoção do cinema contemporâneo.

Canções


Escalação marcada pela ida ao Planeta Terra (ê, piada pronta), com três shows de bandas com plena consciência de quais são as melhores canções que já escreveram. Entre o J&MC e o Spoon, ainda deu pra ver um pedacinho do Offspring – que já tinha visto duas vezes, em épocas melhores. Deu pra pegar umas 5 ou 6 músicas, feliz por, entre elas, estarem “All I Want”, “Come Out & Play” e “Staring At The Sun”. Enquanto caminhava pro palco em que o Spoon tocaria, ouvia a banda em fade out por “Walla Walla” e “Gone Away”, e lembrava de um texto que o Ben Weasel escreveu sobre um show do All-American Rejects, que terminava:

“I feel really old after that show,” she says, hands jammed in the pockets of her coat as she stamps her feet to try to stay warm. “Y’know?”

“Yeah,” I say, opening the door. “But it feels pretty good.”


1- Divine Hammer
Breeders (Last Splash, 1993)

Show quase idêntico ao visto no McCaren Pool Park, com uma essencial diferença: enquanto o som límpido de lá revelava todas as (muitas) fraquezas técnicas da banda, o bololô de boas frequências do Planeta Terra só fez ajudar. Ao vivo, o Breeders parece uma reunião de tias malucas on speed (só faltaram duas dúzias de sacolas penduradas nos dois braços de cada uma das irmãs Deal) com um cavalo tocando bateria, e cinco ou seis canções muito, muito boas. Quando o som embaralha as guitarras mal tocadas com aquele coral de chipmunks das Deals, essas melhores músicas ganham uma pressão realmente contagiante. “Divine Hammer” é uma das canções mais bonitas da década de 1990 e, ao contrário de “Driving On 9” (mutilada pelo “violino” de Kelley Deal, e a insistência de usar guitarras em uma canção que pede violões), ficou linda, linda, linda ao vivo.

10 - Divine Hammer

2- Black Like Me

Spoon (Ga Ga Ga Ga Ga, 2007)

Ga Ga Ga Ga Ga fica melhor a cada audição e, não fosse a ausência do naipe de metais presente em Nova York, o belíssimo show visto no Planeta Terra – sem dúvida, o melhor da noite – apagaria as boas lembranças daquele visto no Prospect Park, em Julho. Todo mundo sabia que “You Got Yr Cherry Bomb”, “Don’t Make Me A Target” e “The Underdog” seriam incríveis ao vivo, mas o que eu não imaginava é que sairia da Vila dos Galpões marcado por “Black Like Me” – balada que fecha o último disco da banda e que, como percebeu a Clarissa, parece uma cover bem humorada de alguma canção perdida do Oasis.

10-spoon-black_like_me

3- Sometimes Always

Jesus & Mary Chain (Stoned & Dethroned, 1994)

O Jesus & Mary Chain fez um show bonito e pra lá de digno, mas que, sem dúvida, teria funcionado melhor em um lugar fechado, onde as guitarras de Mr.Reid pudessem soar tão hipnóticas quanto em disco. Acabaram borrados na memória pela performance poderosa do Spoon, logo na sequência, no galpão que abrigava o palco Indie. Apesar do setlist muito bem escolhido, fica marcada a ausência mais do que esperada de “Sometimes Always”, dueto em dois acordes com Hope Sandoval (Mazzy Star), e minha canção favorita da banda.

the jesus and mary chain - stoned & dethroned - 03 - sometimes always

4- Nightswimming
R.E.M. (Automatic for the People, 1992)

Nunca fui um grande fã do R.E.M. Tenho ótimas lembranças do show de 2001, canções favoritas em diversos discos, mas apenas um álbum – Automatic for the People, claro – que acho realmente impecável. Decidi não vê-los nessa volta ao Brasil pelo preço dos ingressos, e por a data no Rio ter batido com a pechincha do Planeta Terra. Ouvi o Accelerate umas duas ou três vezes, aclamado por fãs como o melhor da banda em décadas, e me pareceu de fato mais coeso que outros recentes, mas sem o brilho imediato de uma “Imitation of Life”, ou uma “At My Most Beautiful” (“Man Sized Wreath”, aliás, é um vexame só). Estava totalmente em paz com o fato de eles terem voltado a tocar “Everybody Hurts” ao vivo, canção tão bonita que deve dar um pouco de vontade de vomitar quando cantada por milhares de pessoas ao mesmo tempo. E assim a passagem do R.E.M. seguia como uma ausência lamentável, mas facilmente administrável no atual estado das coisas. Até que li que, em dois dos quatro shows brasileiros, eles tocaram “Nightswimming” – canção sem refrão que sempre adorei pela beleza inacabada da forma como Michael Stipe parece improvisar letra e melodia, com o vocal cheio de reverb, sobre uma linha bonitona de piano, cordas e sopro. E saber disso me deu uma dor no peito que, agora, não quer passar de jeito algum...

11 - Nightswimming

E fiquemos em 4 canções também, por questão de simetria.

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