sexta-feira, agosto 03, 2007

Sobrecanções

Você olha para a pista cheia e vê as pessoas dançando com a música que você escolheu. As motivações das entregas individuais são outras - certamente não as mesmas que fazem aquela música especial para você. Nenhuma dança é igual, e você brinca de adivinhar as sensações que cada pessoa associa com aquela canção. Um rapaz pensa sobre a beleza dos viadutos; uma garota lembra da luz que se deitava sobre a rua em uma noite cuja única reminiscência é a maneira como a luz se deitava sobre a rua; alguém que precisa de um corte de cabelo agradece por ter tomado mais uma cerveja, porque essa canção se torna incrivelmente apropriada depois da quinta. E depois vêm outras músicas, outros significados, outras diferenças. Todas essas diferenças são costuradas pelas melodias das canções – receptáculos para significados múltiplos, individuais e absolutamente livres. As canções são de todos. E, enquanto você passa os olhos pelos seus cds e pensa em qual memória gostaria de reacender depois daquela que ainda brilha na pista, sua atenção é roubada por casais que tentam se fundir afobadamente demais para ser qualquer vez que não a primeira. Para aquelas pessoas e os capítulos (mais breves ou mais longos) que elas venham a escrever juntas, as canções que você põe pra tocar ganham novos significados a cada acorde. Você percebe que está pensando algo que já pensou infinitas vezes, e acha curioso como, desde que você percebeu essa frágil certeza, cada momento parece estar ali para reafirma-la. Um mergulho na certeza ou na ignorância, mas certamente um mergulho. Certo ou errado, estamos escrevendo História. A única que realmente parece importar alguma coisa.

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