segunda-feira, junho 29, 2009

Party
Manoel de Oliveira, 1996

É claro que não se sai de um filme de Manoel de Oliveira sem um punhado de momentos inesquecíveis (a ventania; Leonor Silveira em silhueta, secando os cabelos; os brilhantes últimos cinco minutos; o peixe sobre a mesa; etc.) , mas, nesse primeiro contato, Party pareceu-me estranhamente pesado. Fui encontrar o motivo para a minha impressão em um trechinho simples e preciso na confluência com a leitura de ABC da Literatura (ótima recomendação do André), do Ezra Pound, quando ele fala sobre o uso do texto no teatro:

Em última análise, penso que todo homem animado de uma razoável curiosidade literária há de ler o Agamenon, de Ésquilo. Mas se ele pensar no teatro como meio de expressão, verá que enquanto o veículo da poesia são PALAVRAS, o veículo do teatro são pessoas em movimento sobre o palco usando palavras. Isto é, as palavras constituem apenas uma parte do veículo e as lacunas entre elas, ou as deficiências dos seus significados, podem ser preenchidas por "ação".

Pessoas que examinaram o assunto com critério e isenção estão absolutamente convencidas de que a máxima carga de significado verbal não pode ser usada no palco, exceto por breves instantes. "Leva tempo para que ela seja apreendida", etc.


O volume do texto em Party é um problema, pois Manoel de Oliveira não preenche sempre tão bem as lacunas entre as palavras. Há muita fala, mas o problema não é tanto esse, quanto a sua distribuição pelo quadro, pelos espaço, pelos gestos. Com isso, muita coisa acaba se anulando, se perdendo, se esvaziando. É precisamente a diferença de pesos de um texto como o de Party, para o de Um Filme Falado.

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