quarta-feira, setembro 10, 2008
Postado por Fábio Andrade às 11:02 AM
Top 5 da semana
Filmes
01 – Os Incompreendidos (Les Quatre Cents Coups) – François Truffaut, 1959Terminada a mostra do Resnais, comecei a rever alguns Truffauts que eu tenho em DVD. Comecei pela fabulosa caixa da Criterion de Antoine Doinel – a mais adorável vertente da obra do diretor. Os Incompreendidos está ali, com Aniki Bobó e Eu Nasci, Mas..., entre os melhores retratos da infância já filmados. Embora seja difícil dizer qualquer coisa nova sobre o filme, sinto-me obrigado a assinar apenas uma nota levemente melancólica: a certeza de que Jean-Pierre Leaud e seu Doinel atingiam, nessa primeira infância, um nível de excelência que não se repetiria nos filmes seguintes.
02 – Smoking/No Smoking – Alain Resnais, 1993Difícil imaginar maneira mais adequada de terminar minha passagem pela mostra do que com a dupla Smoking/No Smoking – filme tão intrigante quanto delicioso de se assistir. Resnais passa, aqui, por um processo de extrema redução: apenas dois atores interpretando quatro ou cinco personagens cada, mantendo sempre só duas pessoas em cena, em planos longos que permitem a perfeição do timing entre os dois, em cenários imóveis que ressaltam as saídas e entradas de cena de Sabine Azéma e Pierre Arditi. Além de três ou quatro personagens absolutamente geniais e de um texto primoroso, Smoking/No Smoking impressiona como visão: no fim das contas, tudo de que o cinema precisa é de um homem e uma mulher tentando gerar fagulhas em cena.
03 – Beijos Proibidos (Baisers Volés) – François Truffaut, 1968Depois do bonito, mas um pouco excessivamente auto-referente Antoine et Colette (episódio de Truffaut no coletivo Amor Aos Vinte Anos), Antoine Doinel retorna no ótimo Beijos Proibidos. Mais do que uma continuação dos filmes anteriores, Beijos Proibidos parece um filme inventado pelo próprio Doinel de Os Incompreendidos. Sua trama detetivesca (que, como um filme de François Truffaut, serve apenas como disfarce para o amor) e suas idas e vindas de roteiro parecem imaginadas por um pré-adolescente, em uma realização visual de o que ele sonha para seu futuro. Assim como Os Incompreendidos, Beijos Proibidos possui uma das mais extraordinárias sequências finais já filmadas.
04 – A Famosa Espada Bijomaru (Meito bijomaru) – Kenji Mizoguchi, 1945Tido por muitos como um mero trabalho de sobrevivência comercial (como ressalta a entrevista com Kaneto Shindo, nos extras da edição francesa em DVD), A Famosa Espada Bijomaru é de um subtexto tão gritante que salta à primeira página: realizado durante a guerra, logo após alguns pares de filmes feitos de acordo com os preceitos estabelecidos pela política de exceção do governo japonês, Mizoguchi filma a estória de um forjador de espadas consumido pelo dilema entre produzir espadas para o Imperador, e espadas que possuam uma alma própria. Em determinado momento, a personagem principal afirma algo como: “Eu e você morreremos, mas as espadas continuarão aí para sempre”. A Famosa Espada Bijomaru vem para afirmar que, na filmografia de um sujeito como Kenji Mizoguchi, os filmes tidos como “menores” não raro dizem muito mais sobre a cegueira crítica diante de suas questões do que sobre seu valor. Em 65 minutos, Kenji Mizoguchi faz um estupendo tratado sobre a responsabilidade e o comprometimento artístico.
05 – Os Pivetes (Les Mistons) – François Truffaut, 1958Célebre curta-metragem de Truffaut, realizado naquele que se mostraria seu mais caro ambiente: a idealização do amor jovem. Em seu andar apaixonantemente desconjuntado, Les Mistons é belíssimo justamente por seu trabalho de afetos, por filmar o amor com olhos absolutamente amorosos. Mesmo sendo, ao fim e ao cabo, uma tragédia.
Canções
01 – “Brandy Alexander” – Ron SexsmithFinalmente botei pra rodar Exit Strategy For The Soul, novo álbum de Ron Sexsmith. E lá estava ela: uma versão deslumbrante para “Brandy Alexander” – parceria com Leslie Feist, já gravada por ela em The Reminder. Enquanto os arranjos de Feist se seguram na delicadeza do estalar de dedos, Sexsmith cria uma versão pulsante, com metais que vibram com a levada de bateria e violões à Tom Petty. Lá uma das melhores canções já gravadas por Feist; aqui, entre as melhores de Ron Sexsmith. Uma beleza.


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