quinta-feira, julho 09, 2009
Postado por Fábio Andrade às 1:40 PM
Cinema Argentino
É bastante expressivo que o brasileiro Curumin tenha fechado sua apresentação de ontem, no Central Park, com uma versão para "Beat It", do Michael Jackson - e ainda mais gritante que tão pouca gente tenha comprado a adulação. Expressivo, pois sela a minha impressão de que o problema mais grave dessa tal nova música brasileira é a vontade excessiva de agradar. Sua música é bem tocada, com boas referências, e tudo mais; mas é simpática demais, redondinha demais. Com isso, se torna inofensiva, inócua, estéril.
Há, no trabalho de Curumin, uma coordenação clara que agrupa muito da música brasileira que funcionou fora do Brasil (de Jorge Ben ao funk carioca), mas que tira delas o fator de risco que lhes era originalmente revigorante. O mesmo acontece com a relação com a música alternativa contemporânea, do que o sampler de violão é o grito mais alto (por que não tocá-lo ao vivo, se o sampler, em si, nada acrescenta?). É Tim Maia sem peso, samba sem a iminência do descontrole, Karnak feito óbvio (em vez de "O mundo caquinho de vidro" temos "A esperança é a última que morre"), Animal Collective como tocador de playback. Falta uma ponta de algo que, talvez, só seja perfeitamente expresso em inglês: edge. Algo que estava lá até mesmo no pior de Caetano, Chico, João Gilberto, ou nos momentos mais auto-indulgentes dos Hermanos.
O show do Curumin fez lembrar o do Ludov que vi no Curitiba Pop Festival (ano do Pixies), em que a vocalista parecia ter medo de deixar dissipar o sorriso constante, como se toda pessoa na platéia fosse um executivo de gravadora em potencial. E poucas coisas são tão repulsivas quanto o sorriso forçado, a simpatia obrigatória.
Juana Molina, por sua vez, foi exatamente o oposto disso. Dá seu boa noite cheio de doçura (mas sempre meio tímido) em vestido xadrez amarelo, e começa logo a impressionar pela destreza e criatividade com que pilota seus aparatos (dessa vez escorados por dois outros músicas - baixo e bateria). Não é pro meu gosto, mas é sempre bom, instigante e sólido. Vi umas cinco músicas (lembrando que eu já tinha visto seu show no ano passado), mas aí ja era tarde para recompor a pau molência proporcionada por Curumin e o dj El G - que animava os intervalos com overdoses de raggaton (vulgo: o ritmo mais chato do mundo, a não ser pela abertura do Beau Travail).
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