sexta-feira, fevereiro 09, 2007

Melhores de 2006 – Discos

Embora pouquíssimas obras-primas musicais tenham sido lançadas em 2006 (ao menos que eu tenha tomado conhecimento), o ano que passou trouxe um número bastante satisfatório de discos bem legais. Se, por um lado, 2006 serviu para que Eugene Kelly, dEUS, Samiam e Gin Blossoms voltassem à ativa com novidades que nada devem a seus respectivos catálogos, artistas interessantes lançassem bons novos discos (Guster, Pete Yorn, Andrew WK, Decemberists, Head Automatica, Yellowcard, Flaming Lips), e os mais apreciados veteranos se exibissem em ótima forma, por outro serviu também para que bandas outrora favoritas afundassem em seus trabalhos mais irrelevantes (Goo Goo Dolls com Let love in, e o desnecessário retorno do Everclear, com Welcome to the drama club, álbum tão inexpressivo quanto os dois que antecederam o fim da banda). Foi também um ano de boas descobertas musicais (Snow Patrol, Peter, Bjorn & John, The Long Winters, Camera Obscura, Drag the River, I’m from Barcelona), e de uma safra impressionante de artistas mulheres (Pink, Neko Case, Pippetes, Joanna Newson, Corinne Bailey Rae) lançando novos discos.

Essa lista – assim como a dos filmes – não traz, porém, necessariamente os discos mais impressionantes de 2006 (especialmente nas últimas posições), mas sim trabalhos que me interessaram, pelos mais variados motivos, a ponto de querer escrever sobre. Sintomática a ausência de bandas de punk rock (mesmo com os bons lançamentos de Lawrence Arms, Strike Anywhere, Draft, Dead to Me, Loved Ones), que me deixa com a estranha sensação de estar saindo de um cômodo onde nunca realmente entrei. Antes que o parágrafo se estenda e a entrada roube o apetite do prato principal, vamos, portanto, à trilha-sonora de um ano defunto.




10 – Ben Kweller – Ben Kweller

Não há dúvida que o Ben Kweller é um cara gente boa. E, como todo cara gente boa, sua companhia pode ser entusiasticamente agradável em determinados momentos, e irritantemente sem sal em outros. Se o ex-menino prodígio do Radish (banda que ganhou alguns minutos de estrelato com o single "Little pink stars”, em meados de 1997) mostrara sua enorme habilidade em se tornar amigo favorito com o impressionante Sha sha (seu disco de estréia em carreira solo), a maior parte do sucessor, On my way, parecia o equivalente musical de comida congelada. Embora o disco tivesse, vá lá, duas ou três canções interessantes, a produção minimalista resultava em arranjos mal resolvidos para canções que não pareciam de fato terminadas.

Ben Kweller - o disco - não é exatamente o retorno de Ben Kweller - o músico - à sua melhor forma. Onde Sha sha temperava eximiamente canções do pop mais tradicional com guitarrices noventisas, e On my way se perdia na psicodelia dos anos 70 (que aqui reaparece em "This is war” – faixa menos interessante do disco), o terceiro álbum de Kweller parece despido de qualquer disfarce: 11 canções inspiradas nos momentos mais pueris de Beach Boys, Beatles e tudo aquilo que moldou o que hoje conhecemos como pop.

É justamente quando Kweller assume sem pudor a luz de tais influências que seu terceiro disco brilha. "I gotta move”, quarta na seqüência, reproduz tão bem toda a cartilha do cancioneiro pop que já soa irresistivelmente familiar na primeira audição; seu refrão mais que direto bebe na leveza irresponsável dos primeiros clássicos dos Beach Boys. "I don’t know why” e "Run” justificam versos sem muito brilho como justa precaução para que eles não atrasassem a chegada dos memoráveis refrões e pontes. A seqüência de "Red eye” e "Until I die” mostra que Kweller ainda sabe escrever boas baladas (embora não consiga alcançar a perfeição de "Falling”), e os pianos do single "Sundress” começam a revelar um novo lado do artista que pode vir a render boas surpresas no futuro.

Se o domínio da construção pop faz de Ben Kweller um álbum imediatamente agradável, esse mesmo domínio acaba dissipando seu próprio brilho após algumas audições. Sha sha (e até mesmo alguns momentos do segundo álbum) era sublinhado por uma dose de nonsense em suas letras que o mantinha fresco por muito mais tempo (basta lembrarmos da seqüência de abetura – "How it should be” e "Wasted and ready”, ainda hoje memoráveis); aqui, as letras parecem apenas encaixar palavras preguiçosas nas melodias vocais. Embora a vontade de juntar as coisas que importam e fugir - que domina as melhores canções do álbum - tenha lá seu apelo, a falta de dedicação impressa nas letras acaba por trair pequenos feitos musicais. Por qual outra razão, senão essa, a linha do refrão de "Nothing happening” - bela e melancólica quando guiada pela slide guitar da introdução - perderia todo o seu brilho quando base para generalidades como "nothing is happening, it’s all confusion, it’s all confusion”?

Em seu terceiro disco, Ben Kweller se encontra em delicado equilíbrio, entre o pleno domínio de composição e o esvaziamento da fórmula. Suas canções ainda são boas o suficiente para render audições das mais agradáveis (não à toa ele entra na minha lista dos melhores do ano), mas começam a desafiar com o olhar o desgaste quando rodamos o disco algumas vezes. O equilíbrio, com efeito, passa longe de ser um mau lugar. Mas deixa a curiosa impressão de que, dependendo de em qual perna Kweller venha a relaxar o peso de seu corpo, seu próximo disco será ou o melhor, ou o pior de sua carreira.

2 comentários:

Rubem disse...

Apesar de sua implicância com o segundo disco do garoto, eu acho que ele bomba muito! E eu escutei algumas vezes o terceiro, mas ainda não deu pra sentir.

E só porque você está renegando seu passado, aí vai a minha indicação (não sei de que ano é o disco): Toys That Kill - Shanked. Sim, o próprio FYP, que no meio da barulheira e gritaria conseguia encaixar melodia, lançou este disco que é bem diferente do que eles já fizeram. Posso estar enganado, mas tem um toque de "indie wannabe" nele.

Melhor filme do mundo: ROCKY BALBOA

Anônimo disse...

Comida congelada não! Pote de azeitona vai!