sexta-feira, junho 20, 2008

Revisões e novos hits

Agora que meu ano finalmente acabou, posso começar meu processo favorito de toda a virada: revisões críticas! Na verdade, é só uma lista de canções que teriam entrado no meu mix de melhores do ano, caso ele fosse um álbum duplo.

01 - LCD Soundsystem – “All My Friends”

Qualquer pessoa que reserve um mínimo de atenção às publicações de música já deve ter enfiado o pé em uma poça de baba derramada em nome de James Murphy. Ao ouvir o álbum Sound of Silver, não é difícil entender o porquê: o LCD Soundsystem é, mesmo, uma coisa ótima de se ouvir em quase qualquer situação ou estado de espírito. De todas as faixas do disco, a melhor disparada é o single “All My Friends”. Embora os quase oito minutos oficiais da canção assustem, passada a longuíssima introdução de piano (cortada do single), “All My Friends” parece uma mistura do que há de melhor no New Order e no Jesus & Mary Chain em uma só canção. Duas notas, uma melodia vocal mais que grudenta, uma ótima letra e, para somar, um clipe que é uma versão de “Numb”, do U2, com maquiagem de luta livre.

02 – Band of Horses – “No One’s Gonna Love You”

Desde que eu ouvi falar no Band of Horses pela primeira vez, decidi que o nome da banda era genial demais para eu não gostar dela (imagine se eu soubesse que era uma banda de surfistas barbudos...). Insisti várias vezes com o álbum anterior, Everything All The Time¸ mas o contato nunca rendeu fagulhas significativas. Até que saiu Cease to Begin, e todos os fãs pareciam decepcionados. Por algum motivo, isso normalmente significa que eu vou acabar gostando muito do disco, e não deu outra: a química foi instantânea. “No One’s Gonna Love You” é uma balada insuportável de tão bonita, com sua guitarra insistente e o vocal à Flaming Lips (ou seria Supertramp?) de Ben Bridwell esticando as pontas de seus agudos. Ainda consegue uma proeza rara: começa com um ar meio nostálgico, mergulha de cabeça na tristeza na ponte para, depois, explodir em um refrão deliciosamente ensolarado. É uma canção incrível.

03 – Spoon – “You Got Yr Cherry Bomb”


Ga ga ga ga ga, sexto álbum de estúdio do Spoon, foi hypeado até não mais poder. Como vem acontecendo com todos os discos da banda, algumas faixas me parecem absolutamente extraordinárias, e outras francamente abomináveis (caso do single “Don’t You Evah”, cover da finada banda National History, insuportavelmente parecida com aquele hit mau caráter das Pussycat Dolls). Na metade boa de Ga ga ga ga ga, temos, porém, pérolas como “The Underdog”, “Don’t Make Me A Target” e a fabulosa “You Got Yr Cherry Bomb”, canção de refrão forte e de batida disposta a não parar por nada nesse ou em outro mundo. Músicas boas o suficiente para se juntarem ao repertório de esperanças do passado, e adicionarem o Spoon à minha lista de shows para ver nas férias.

04 – Andrew Bird – “Herectics”

O Andrew Bird é um talentoso violinista/cantor/compositor de Chicago que, além de contribuir com o Measure for Measure e tocar ocasionalmente com o Wilco, lançou, via Fat Possum, o interessante Armchair Apocrypha no ano passado. “Herectics”, sua melhor canção, soa como um improvável encontro entre Pavement (o vocal de Andrew lembra o Stephen Malkmus de Terror Twilight e Brighten the Corners) e Arcade Fire. A ponte faz uma mudança de tom meio incômoda, mas o ótimo refrão e os marcantes riffs de guitarra e violino fazem você querer retornar à canção várias vezes. E o bom é que, depois de algumas audições, a parte que parecia um pouco torta começa a fazer algum sentido.

05 – Cat Power – “Stuck Inside Of Mobile With The Memphis Blues Again”

É uma ironia dos diabos, mas sempre fico com a impressão de que a Cat Power rende mais como intérprete de repertório alheio do que como compositora. Por mais que eu goste de The Greatest (e eu gosto muito), não deixa de ser impressionante como ela sabe extrair vida nova de canções já queimadas na memória pelos anos de convívio. Seu último disco de covers, Jukebox, é prova contundente, mas não tão boa quanto sua versão para “Stuck Inside Of Mobile With The Memphis Blues Again”, gravada para a trilha-sonora de I’m Not There. Enquanto boa parte dos artistas convidados trabalhou o material original de Dylan com abordagens protocolares (caso de Jeff Tweedy e sua versão um tanto decepcionante para a bela “Simple Twist of Fate”, ou o Sonic Youth, fazendo exatamente o que se espera deles, com a faixa-título), Cat Power faz uma versão negona, hiper dançante do clássico de Blonde on Blonde. A canção dura quase 7 minutos, mas se durasse para sempre você não pararia de dançar.

06 – Stars – “Midnight Coward”

Existem poucas coisas tão agradáveis quanto encontrar, na pilha de RARs , um disco bacana que você baixou e, por algum motivo, acabou não ouvindo. In Our Bedroom, After the War, do Stars, foi minha mais recente grata surpresa. Lançado via Arts & Crafts, selo do Broken Social Scene (que, dizem, tem show imperdível confirmado no Canecão, em Setembro), o álbum do Stars é um conjunto de belas e delicadas canções pop, por vezes lembrando um Magic Numbers com menos guitarras (ou um Belle & Sebastian do espaço). O disco todo faz ótima companhia, mas minha favorita nesses dias é o belo dueto “Midnight Coward”.

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É fato que meu ano só começa em Agosto, mas 2008 já tem, até agora, dois hits incontestáveis. Um, de escala global: “Ready For The Floor”, do Hot Chip, parece capaz de bombar toda e qualquer pista de dança no mundo. O outro, particular a esse cantinho: “Sequestered in Memphis”, primeiro single do álbum novo do favoritíssimo Hold Steady (que também vejo ao vivo, em Julho) já é pré-candidato a rock mais fera do ano.

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