sexta-feira, outubro 24, 2008

Chorus #1 – I’m Not There

Há algum tempo já vinha ensaiando gravar algumas canções novas que fiz para o Driving Music. A idéia, porém, não era gravar cinco delas de uma só vez – como foi com a primeira demo – mas ir canção por canção, liberando-as ao mar no andamento natural da produção. Cheguei a sequenciar a bateria inteira de uma das novas canções há uns meses atrás (tirando as inúmeras que vou deixando de lado, tenho umas outras cinco – prontas ou em processo – que quero gravar logo, antes que desista delas também), e aí foi uma enxurrada de contratempos: viagem, placa de som em greve, trabalho, Festival do Rio, etc. Hoje ia rever Era Uma Vez em Tóquio na Caixa Cultural, mas um torcicolo que começou a descer pra escápula (meu calcanhar se eu fosse Aquiles) me aconselhou evitar as cadeiras daquela sala, para estar inteiro para um dia seguinte de 3 horas de Imamura, seguido pelo aguardadíssimo show do National. Aproveitei o tempo de molho pra abrir o computador, limpar a placa de som (maresia não gosta de rock - tanto quanto eu gosto de parênteses) pra ver se ela funcionava de novo (funcionou!), e recomeçar os trabalhos. A idéia desse post, portanto, é começar um acompanhamento – que a pricípio pretendo seguir, mas que está sempre à maré do interesse – desse processo de gravação, já que até hoje recebo emails perguntando como fiz pra gravar a demo toda em casa, sozinho, sem grana, etc.

A nova canção se chama “Chorus”, e já estava rascunhada quando gravei as primeiras cinco do Driving Music. Desde que comecei a escrevê-la, animei-me com a possibilidade de caminho musical que ela me acenava: é uma canção bem curta (dois minutos e meio, segundo a timeline do Sonar), de andamento mais fluido, cantada do início ao fim – como as canções pop sem solos da década de 1950 – e com uma melodia ensolaradíssima. Nasceu do meio de coisas que eu estava escutando na época – Lemonheads, Teenage Fanclub, Pernice Brothers, Limbeck – e aos poucos foi se transformando, ganhando traços mais definidos conforme perdia as roupas pelo caminho. Uma das poucas adições, e das mais distintivas, foi um riff que se repete a todo tempo, virando uma espécie de leitmotif dentro da canção. É uma linha melódica de cinco notas enfileiradas feito bobas, que pela construção fazem lembrar as melodias Coney Island do Tom Waits, mas que eu quero gravar à Springsteen, dobrando essa linha com guitarras, teclados e glockenspiel. Pode ser que não funcione, mas estou ansioso pra testar. De resto, quanto maior a discrição, melhor: baixo e bateria retos – muito mais diretos se comparados aos das canções anteriores - e guitarras tweedy quase limpas deitadas em camas de violões e hammond. Estou tentado a gravar uma guitarra com slide também, embora eu saiba que não domino muito bem a geringonça. Também planejo harmonizar minhas várias vozes, na esperança de pegar um pouco dessa atmosfera 50’s original à canção.

Então hoje foi dia de reabrir o projeto da bateria no Reason, tirar alguns excessos, acertar um acento de dinâmica que me ocorreu nos meses em pausa, e exportar a coisa toda pro Sonar. Acho interessante que a canção tenha sido escrita com uma vontade meio “Into Your Arms”, mas que agora ela vai sendo remoldada pela minha recente obsessão pelos discos do Ron Sexsmith – que, hoje, me parece ser o paralelo mais apropriado a se fazer com a “Chorus” que ainda ouço na minha cabeça (embora alguém vá comparar com Millencolin no final). Não no território das baladas, quem me dera, mas de canções como “Keep It In Mind”, “Disappearing Act” ou “A Clown In Broad Daylight”. Existe um parentesco estrutural entre essas canções mais rock’n’roll do Ron Sexsmith e “Chorus”, talvez pela busca da contenção nos arranjos; pela preocupação maior de inflá-los de invisibilidade. Porém, à distância, meu registro vocal é bem mais alto e áspero, passando longe do gogó à Roy Orbison do Sexsmith. Talvez ela pudesse ser uma canção que ele tenha gravado aos doze anos de idade – o que, para mim, parece bom o suficiente.

Mas a identificação com os discos de Sexsmith que já começa a nortear o trabalho com a canção é justamente pela limpeza de todo excesso, e isso já começou nesse primeiro dia. Na primeira demo eu queria muito que a bateria programada não fosse uma limitação, e que eu pudesse trabalhá-la como faria com uma bateria gravada ao vivo. Hoje, já me sinto mais à vontade para retornar às canções, simplesmente, podendo trabalhar os elementos que tenho à disposição sem tanta dedicação virtuosística ou técnica (dois papéis que eu nunca soube representar), jogando ao fundo o que ao fundo pertence (hoje, as baterias daquelas primeiras gravações me soam irritantemente altas), tentando compreender melhor o tamanho de cada coisa. É uma ambição nada nova de depuração, que carrego comigo desde o Hollywood (já que o Fireworks é o resultado do encantamento com as possibilidades de se estar à vontade em um estúdio, em uma ilusão de que o processo andava ao seu tempo enquanto, na verdade, se esticava para além de suas bordas) e que hoje acredito compreender melhor. É um processo - inviável como realização, mas necessário para mim enquanto meta - de me retirar de uma canção que, como todas as outras, só ao mundo pertence. E se, ao final, o ouvinte não conseguir me encontrar dentro dela, tanto melhor.

* FOTO por Clarissa de Oliveira, e seu olhar capaz de gerar sol até em fotos tiradas às 10 da noite.

* * *

Aos leitores que não têm interesse algum em minhas canções, mas nutrem um fetiche pelas minhas sandices e cotações no imdb, fiquem tranquilos: este blog seguirá funcionando normalmente, com apenas algumas intervenções deste eu que acha que cria melhor quando não cria em silêncio.

1 comentários:

Anônimo disse...

Me gusta!!!!!!!!!

Termina logo isso ai. Malucos, preciso te mostrar o Driving Music no meu Ipod Touch...é demais hahahahahahahahahahaha....vc ficou duplicado hahahahahaha

Saudades de vcs....vejo vcs no Just Like Honey.

Erika