quarta-feira, outubro 15, 2008

Da abjeção

Fui, enfim, ver o Ensaio Sobre A Cegueira, do Fernando Meirelles. Não li o livro do Saramago e confesso não ter lá muita simpatia pelo português, mas o problema maior do filme é que todo aquele jeito de meninão ingênuo do Meirelles – para o bem e para o mal, tão fascinante no blog que ele fez sobre o filme, e nas entrevistas de divulgação – quando se traduz em imagem gera coisas absolutamente assustadoras. Não preciso nem falar (mas vou falar assim mesmo) sobre a incapacidade de Meirelles de não pular o eixo entre um corte e outro (mesmo sabendo que a desorientação é, muitas vezes, buscada – embora seja difícil engoli-la como conceito), sobre a impossibilidade de se compor um quadro minimamente rigoroso, sobre o desempenho muito assustador de alguns atores (Alice Braga em um caso crônico de vergonha alheia – com Mark Ruffalo e Danny Glover de preto velho vindo logo atrás), sobre a pobreza de se representar a cegueira pela superexposição (algo tão banal que eu já vi até em filme de conclusão de curso na PUC), ou sobre aquelas construções de epifania bizarras (a cena musical; o banho de chuva; o cachorro lambendo o rosto da Julianne Moore; a aula de piano entreouvida no silêncio da cidade). Perturbadora mesmo é a lembrança do meninão Meirelles escrevendo em seu blog que a cena do estupro tinha sido mal recebida nos test screenings, e aí logo imaginamos ele, em uma tentativa desesperada de amenizar o impacto da cena, sugerindo “Vamos pegar aquela trilha meio Nino Rota que o Uakti fez e colocar nessa cena”. É lá se vai a mulherada, naquela filinha circense, em passinho marcado rumo a um estupro light e animadinho.

4 comentários:

Anônimo disse...

Achei preconceituoso seu comentário sobre os filmes de conclusão de curso da Puc.

Continuo achando decente o manifesto do Pedro Cardoso.

Andre de Freitas Sobrinho disse...

pedro cardoso entende tanto de pornografia, como o meirelles de estupro.

Fábio Andrade disse...

andré,

não tenho a menor idéia de como responder adequadamente ao seu post.

Anônimo disse...

Também tava achando até as críticas negativas um tanto quanto condescendentes com esse desastre.

Abjeção é a palavra.