quinta-feira, agosto 21, 2008
Postado por Fábio Andrade às 11:10 AM
Top 5 da semana
Atrasado pela ida a São Paulo, mas mantendo semanas de apenas sete dias como critério de transparência! Ontem comecei o mergulho na inestimável mostra completa de Alain Resnais, no CCBB (Rio e SP). Aguardem cinco filmes dele comentandos aqui, na semana que vem.
Filmes
1 – Pai e Filha (Banshun) – Yasujiro Ozu, 1949
Se existem sempre aqueles malucos capazes de, na cara limpa, perguntarem quem seria o maior diretor de todos os tempos, eu sou o maluco que, sem titubear, responderia à pergunta: Yasujiro Ozu. Revi Pai e Filha para escrever um texto que, em breve, será publicado na Cinética. Como rápido traço blogueiro, vale dizer que ter um dos melhores filmes de Ozu lançado em DVD no Brasil (é só o segundo, gente, só o segundo!) merece semanas de comemoração. Mesmo que precisemos, no processo, relevar a tradução (do inglês, obviamente quase literal) meio porquinha da edição da Lume Filmes.
2 – Rushmore – Wes Anderson, 1998
Conheci o trabalho de Wes Anderson pela obra-prima Os Excêntricos Tennenbaums. Embora venha acompanhando sua carreira desde então, faltava-me conhecer seus dois primeiros e elogiadíssimos filmes. Rushmore tapa o primeiro buraco, sem o vento de novidade que deve ter sido à época de seu lançamento. O contato tardio vem, felizmente, calar uma incômoda dúvida: minha decepção com O Expresso de Darjeeling tem muito mais a ver com um momento menos inspirado na carreira do diretor, do que com um tédio meu em relação ao seu universo. Mesmo não sendo novidade alguma, o final em slow motion, as composições rigorosamente frontais, as caras de vazio, os rocks bem escolhidos, e todos os outros supostos "maneirismos" de Anderson me bateram fortemente neste seu segundo longa-metragem. Resta, agora, Bottle Rocket, na pilha de DVDs, esperando seu melhor momento.
3 – Pecados de Guerra (Casualties Of War) – Brian De Palma, 1989
Mais um De Palma riscado da lista, não exatamente entre os maiores, mas bem acima dos menores. É impressionante como um gênero aparentemente tão pouco frutífero aos interesses mais claros do cineasta abre brechas para suas mais manjadas obsessões, sem que a hostilidade do universo filmado confine De Palma nos cantos mal iluminados de um desejo obsessivamente realista, ou da necessidade de curvar sua mise-en-scéne diante de um grande tema. Pecados de Guerra é, rigorosamente, um filme de Brian De Palma, e traz, ao menos, duas das mais surpreendentes sequências de sua carreira: os túneis vietnamitas que fazem campo do extra-campo; e o assassinato da garota vietnamita – filmado como sequência de filme de horror. A mistura de gêneros deixa de ser assinatura estilística e se torna, nesse cruzamento, uma forte declaração política: filmar o horror como horror, puro e simples.
4 – Encarnação do Demônio – José Mojica Marins, 2008
Salvos os louros sem freios, a politicagem crítica, a sombra do tempo longe das telas, a montagem muitas vezes descaralhada, a caricatura da superexposição invertida das últimas décadas, os repórteres obcecados com suas unhas, etc; o retorno de José Mojica Marins à direção traz algumas das imagens mais impactantes vistas no cinema este ano. Apesar de os problemas do filme me afastarem do coro de “obra-prima”, é difícil imaginar uma volta mais apropriada para Mojica e seu Zé do Caixão. Por vezes, o filme toma vias de atualização que giram em círculo; mas quando ele decide, de fato, se pensar como um novo momento em um longo e admirável processo (os filmes antigos que voltam à tela; as impressionantes personagens em preto e branco que caminham pelas cores; a mulher que sai do porco; a putaria; os banhos de sangue; o esconderijo na favela; o céu vermelho; o trem-fantasma), Encarnação do Demônio acaba sendo um dos mais emocionantes filmes do ano. Mojica sempre teve consciência absoluta de sua posição como realizador, e o tempo longe das câmeras parece não tê-la abalado em rigorosamente nada.
5 – Man In The Sand – Kim Hopkins, 1999
Man In The Sand é um documentário sobre a realização de Mermaid Avenue – álbum em dois volumes de Billy Bragg e Wilco, a partir de letras inéditas de Woody Guthrie. Mais notável do que o inevitável fetichismo em ver parte do processo escancarada é a maneira como, pelo trabalho de Bragg e da filha de Woody Guthrie, uma figura tão escorregadia quanto Guthrie começa a ganhar contornos pela recuperação de uma memória que não é a dele, mas sim a de quem o busca. Uma memória inventada. Seja pela estória com traços de “h”, narrada por Nora Guthrie (e a câmera colocada na cabine de gravação, expondo o rosto da voz em off, é uma escolha brilhante), ou pela maneira como Billy Bragg monta seu Woody Guthrie a partir dessas canções (a cena em que Bragg comenta “Ingrid Bergman” em um show, por exemplo), o filme de Kim Hopkins equilibra-se nessa busca fadada à incompletude, nessa necessidade de se criar Guthries particulares, pois o Woody Guthrie de Woody Guthrie não está mais ali.
Canções
Especial “Eu fui no show do Josh Rouse”! Fotos tiradas pela Clarissa, da fileira H do Sesc Vila Mariana.
1 – “Streetlights”
Todos sabíamos que “Winter In The Hamptons” – maior hit de Rouse – seria um momento memorável, por isso reservo estes cinco lugares a canções menos esperadas; às surpresas que todo grande show reserva (pois a noite com a Rouse foi, definitivamente, grande). Sempre achei “Streetlights” uma de suas mais belas canções, afinal, a identificação com um refrão que diz “We can talk about the streetlights” era inevitável – tão próximo que está do meu universo de composição. Como Rouse tem muitas canções, estava preparado para não ouvi-la. Mas se o show deixou uma impressão incontornável a respeito de Rouse é a sua plena consciência de quais são suas melhores canções, e “Streetlights” veio marcada pelo violão de 12 cordas, já próxima ao final da noite. Ao contrário de canções como “Givin’ It Up” – sensivelmente lascada pela falta das cordas – em “Streetlights”, a saída dos violinos gerou uma versão mais crua, mas talvez ainda mais forte, mais orgânica, do que a conhecida em Nashville.
2 – “Hollywood Bassplayer”
Embora mal possamos ouvir guitarras em seus dois últimos discos, é ela o instrumento que permaneceu nos braços de Rouse pela maior parte da noite. Não espere, porém, ouvir transposições de arranjos para o instrumento, ou sequer ver Josh Rouse mover os dedos pelo braço da guitarra para fazer um solo – os essenciais ficam a cargo de Mike Cruz, que em duas ou três canções abandonaria o teclado para tocar uma segunda guitarra. Em “Hollywood Bassplayer”, a ausência foi tapada por um recurso genial: o agudo solo de guitarra foi “cantado” por toda a banda. “Hollywood Bassplayer” é a melhor canção de Country Mouse, City House, seu mais novo álbum, comentado aqui à época dos Melhores de 2007.
3 – “Quiet Town”
Faixa de abertura do impecável Subtítulo, “Quiet Town” é uma canção quase boba, mas que ganhou contornos realmente inesperados em sua versão ao vivo. Seja pelo trabalho de luz durante sua apresentação (nesse momento, apenas um corte amarelo retirava o rosto de Rouse da escuridão do palco) ou pela acentuada dinâmica no momento em que o violão passa a ser acompanhado pelo resto da banda, “Quiet Town” mostrou, ao vivo, uma força que sua versão em estúdio – por melhor que seja – nunca pareceu encontrar.
4 – “His Majesty Rides”
A organização do SESC é tão competente que chega a alguns absurdos: na entrada do show, havia uma pilha de programas que, além de explicarem quem era Rouse, anunciavam o repertório completo do show. Embora não tenha resistido a uma breve conferida em minhas favoritas, fiquei um pouco chateado de a inevitável olhada estragar as possíveis surpresas da noite. “His Majesty Rides” foi a primeiríssima canção da noite, contrariando a fraca “Pilgrim” (que apareceria, mais tarde, só para eu ter uma canção para, imaginariamente, substituir pelas grandes que ficaram de fora - como "Rise", "My Love Has Gone", "Nothing Gives Me Pleasure", "1972", "Late Night Conversation"...), anunciada como abertura no folheto. E ali passei a agradecer por, embora impecável, a organização do SESC também ter suas falhas.
5 – “It’s The Nighttime”
Já estava com o nome da canção rodando na boca, percebendo que o show caminhava para o fim e ela ainda não havia aparecido. Pensava que não haveria maneira mais bonita de encerrar noite tão especial do que com canção que dizia “It’s the nighttime, baby, don’t let go on my love”. Antes que pudesse gritar por ela, Rouse assinou embaixo da intuição de que temos cabeças musicais extremamente parecidas, puxando a canção ao violão para encerrar o tempo regulamentar. Ele voltaria ao bis com “Slaveship”, “Sad Eyes” e “Directions”, mas “It’s The Nighttime” foi a canção que me acompanhou até o hotel. Fato digno de nota: ao fazer o check in, após o show, vejo que a Clarissa olhava fixamente para o bar do hotel. Perguntei o que era, e sua resposta foi manter os olhos fixos. Olho pro bar e lá estão Josh Rouse e banda. E eu fui lá agradecer mais uma vez, por tudo, antes de ir dormir.
Faixas tocadas:de Home - "Directions"
de 1972 - "Come Back", "Love Vibration" e "Slaveship"
de Nashville - "It's The Nighttime", "Winter In The Hamptons", "Streetlights", "Carolina", "Why Won't You Tell Me What" e "Sad Eyes"
de Subtítulo - "Quiet Town", "It Looks Like Love", "Summertime", "His Majesty Rides" e "Givin' It Up"de Country Mouse, City House - "Sweetie", "Pilgrim" e "Hollywood Bass Player".
4 comentários:
Pô, fui ver o Encarnação do Demônio e achei que o filme comanda. Foi muito maneiro ver o Bom Velhinho de volta!
Me empresta o Rushmore!
Saudades!
O duende espertalhão está de volta? Inesquecível aquela abertura do Cine Thrash (que eu não vi, mas é como se tivesse visto) em que o Mojica metia a mão na mulherada!
sei que me arrependerei de não ter me esforçado mais pra ter ido nesse show.
eu recomendo que você se arrependa sim, elho. eu faço o impossível, mas não perco mais esse tipo de show, cara.
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