domingo, setembro 21, 2008

Festival do Rio - agora só ano que vem (quem preferir o método das estrelinhas gostará de saber que, durante o festival, estou participando do quadro de cotaçoes da revista Contracampo)

Ano passado, o blog recebeu atenção especial nessa época do ano pela minha escrita de tudo que vi no Festival do Rio. Este ano, integrarei o grupo de cobertura da Cinética (com outros cinco redatores presentes , dedicando especial atenção ao Festival em atualizações diárias), então não haverá tempo ou razão para fazer algo parecido por aqui também. Usarei este espaço, porém, para uma lista atualizada diariamente (ou quase) com cotações para todos os filmes vistos. Em vez de criar novos posts, vou mudar a data que aparece ao lado do título sempre que a lista for atualizada. Novas adições on top, sempre.

Por três motivos, troco as típicas estrelinhas e bolas pretas dos Cahiers por notas de 1 a 10. O primeiro, é por externar meu hábito de dar notas aos filmes no imdb (how much of a geek am I, baby?), trabalhando com um sistema que já me é familiar. O segundo, por já achar uma escala de dez bastante apertada para dar conta de todas as minhas implicâncias e afetos (embora eu não tenha coragem de mergulhar no ridículo sistema decimal da Pitchfork). O terceiro, e mais importante, motivo é porque - como fazem os EUA - minha opinião é arrogante a ponto de precisar ter seu próprio sistema métrico. Que não me venham com quilômetros! Lembrem-se, porém, que sou um otimista nato, e que notas abaixo de 5 são avisos bem claros de que certa distância é recomendada.

A função da lista é alertar, mesmo que de forma telegráfica, os desavisados para possíveis jóias descobertas, ou bombas detonadas pelo caminho. A julgar pelos filmes vistos até agora, nos dois primeiros dias das cabines de imprensa (que, aliás, são famosas pela desova de lixo), elas serão maioria esmagadora. Ainda assim, vale ressaltar que a proporção é inevitável em quantidade, e pouco tem a ver com a qualidade dos pratos principais. Em especial por o cardápio de 2008 estar, de fato, riquíssimo.

Que essa lista seja um bom funeral para o tempo despendido nessas sessões, fazendo minha parte para que ninguém perca o creme enquanto procura por torrões de açúcar no meio da merda.

Festival do Rio 2008 - Filmes vistos, cotados de 1 a 10 (novidades em negrito; destaques com fotos)

Waltz with Bashir
, de Ari Folman, Israel, 2008 - 5/10
Cinzas do Passado Redux (Ashes of Time Redux), de Wong Kar-wai, Hong Kong, 2008 - 8/10

Sad Vacation, de Shinji Aoyama, Japão, 2007 - 9/10

Na Guerra (De la guerre), de Bertrand Bonello, França, 2008 - 8/10

Aquiles e a Tartaruga (Achilles to kame), de Takeshi Kitano, Japão, 2008 - 8/10

Sukiyaki Western Django, de Takashi Miike, Japão, 2007 - 6/10
Leonera, de Pablo Trapero, Argentina, 2008 - 8/10

Quatro Noites com Anna (Cztery noce z Anna), de Jerzy Skolimowski, Polônia, 2008 - 7/10

Pai Patrão (Padre Padrone), de Paolo e Vittorio Taviani, Itália, 1977 - 9/10

Il Divo, de Paolo Sorrentino, Itália, 2008 - 4/10
Filme Pirata (Kaizokuban Bootleg Film)
, de Masahiro Kobayashi, Japão, 1999 - 3/10
Minha Mágica (My Magic), de Eric Khoo, Cingapura, 2008 - 4/10
Velha Juventude (Youth Without Youth), de Francis Ford Coppola, EUA, 2007 - 8/10

Les Amours d'Astrée et de Céladon, de Eric Rohmer, França, 2007 - 8/10

Segurando as pontas (The Pineapple Express), de David Gordon Greene, EUA, 2008 - 8/10

Noite e Dia (Bam gua nat), de Hong Sang-soo, Coréia do Sul, 2008 - 8/10

Caos (Heya Fawada), de Youseff Chahine, Egito, 2007 - abandonado aos 40 minutos
O Lar (Home), de Ursula Meier, França/Suíça, 2008 - 7/10

Ano Unha (Anõ Unã), de Jonás Cuarón, México, 2007 - 4/10
A Viagem do Balão Vermelho
(Le Voyage du Ballon Rouge), de Hou Hsiao-hsien, França, 2007 - 10/10

Paris, de Cédric Klapisch, França, 2008 - 3/10
Juventude, de Domingos Oliveira, Brasil, 2008 - 6/10
A Erva do Rato, de Júlio Bressane, Brasil, 2008 - 8/10

Joe Strummer - O futuro está para ser escrito (Joe Strummer: The Future is Unwritten), de Julien Temple, EUA, 2007 - 3/10
O Último Reduto (Dernier maquis), de Rabah Ameur-Zaimeche, França, 2008 - 7/10


Entre Cães e Deuses (Liu lang shen gao ren), de Singing Chen, Taiwan, 2007 - 2/10
A Fronteira da Alvorada (La Frontière de l'aube), de Philippe Garrel, França, 2008 - 8/10

Sol Secreto (Milyang), de Lee Chang-dong, Coréia do Sul, 2007 - 5/10
Vocês, Os Vivos (Du Levande), de Roy Anderson, Suécia, 2007 - 7/10

Aquele Querido Mês de Agosto, de Miguel Gomes, Portugal, 2008 - 9/10

Na cidade de Sylvia (En La Ciudad de Sylvia), de José Luís Guerrin, Espanha, 2007 - 8/10

A Mulher Sem Cabeça (La Mujer Sin Cabeza), de Lucrecia Martel, Argentina, 2008 - 9/10

Liverpool, de Lisandro Alonso, Argentina, 2008 - 2/10
Inútil (Wuyong)
, de Jia Zhang-ke, China, 2007 - 7/10

Glória ao Cineasta (Kantoku * Banzai!), de Takeshi Kitano, Japão, 2007 - 7/10

Sobre o Tempo e a Cidade (Of Time and the City), de Terence Davies, Reino Unido, 2008 - 6/10
Casa Negra (
Geomeun jip), de Terra Shin, Coréia do Sul, 2007 - 4/10
RockNRolla, de Guy Ritchie, Reino Unido, 2008 - 2/10
Delta, de Kornél Mundruczó, Hungria, 2008 - 3/10
Gomorra, de Matteo Garrone, Itália, 2008 - 3/10
CSNY Déjà Vu, de Bernard Shakey (pseudônimo de Neil Young), EUA, 2008 - 5/10
O Visitante (The Visitor), de Thomas McCarthy, EUA, 2008 - 1/10

terça-feira, setembro 16, 2008

Driving Music

Setembro começa com o Driving Music bombando em páginas virtuais: além de uma ótima resenha no blog norte-americano Sound As Language, o Driving Music é banda do mês na PunkNet. O especial traz uma resenha e três entrevistas comigo: um faixa-a-faixa da demo; uma lista dos 10 discos que mais me influenciaram; e uma conversa geral sobre ser uma banda. Diverti-me bastante com o processo, então espero que o resultado seja, também, minimamente interessante para quem lê. Aproveitem!

quinta-feira, setembro 11, 2008

Praticamente um metereologista

Depois de um verão de curtição, retorno à Cinética com críticas sobre os ótimos Trovão Tropical, de Ben Stiller, e O Nevoeiro, filme de Frank Darabont em debate com Fabio Diaz Camarneiro.

quarta-feira, setembro 10, 2008

Top 5 da semana

Filmes

01Os Incompreendidos (Les Quatre Cents Coups) – François Truffaut, 1959

Terminada a mostra do Resnais, comecei a rever alguns Truffauts que eu tenho em DVD. Comecei pela fabulosa caixa da Criterion de Antoine Doinel – a mais adorável vertente da obra do diretor. Os Incompreendidos está ali, com Aniki Bobó e Eu Nasci, Mas..., entre os melhores retratos da infância já filmados. Embora seja difícil dizer qualquer coisa nova sobre o filme, sinto-me obrigado a assinar apenas uma nota levemente melancólica: a certeza de que Jean-Pierre Leaud e seu Doinel atingiam, nessa primeira infância, um nível de excelência que não se repetiria nos filmes seguintes.

02Smoking/No Smoking – Alain Resnais, 1993

Difícil imaginar maneira mais adequada de terminar minha passagem pela mostra do que com a dupla Smoking/No Smoking – filme tão intrigante quanto delicioso de se assistir. Resnais passa, aqui, por um processo de extrema redução: apenas dois atores interpretando quatro ou cinco personagens cada, mantendo sempre só duas pessoas em cena, em planos longos que permitem a perfeição do timing entre os dois, em cenários imóveis que ressaltam as saídas e entradas de cena de Sabine Azéma e Pierre Arditi. Além de três ou quatro personagens absolutamente geniais e de um texto primoroso, Smoking/No Smoking impressiona como visão: no fim das contas, tudo de que o cinema precisa é de um homem e uma mulher tentando gerar fagulhas em cena.

03Beijos Proibidos (Baisers Volés) – François Truffaut, 1968

Depois do bonito, mas um pouco excessivamente auto-referente Antoine et Colette (episódio de Truffaut no coletivo Amor Aos Vinte Anos), Antoine Doinel retorna no ótimo Beijos Proibidos. Mais do que uma continuação dos filmes anteriores, Beijos Proibidos parece um filme inventado pelo próprio Doinel de Os Incompreendidos. Sua trama detetivesca (que, como um filme de François Truffaut, serve apenas como disfarce para o amor) e suas idas e vindas de roteiro parecem imaginadas por um pré-adolescente, em uma realização visual de o que ele sonha para seu futuro. Assim como Os Incompreendidos, Beijos Proibidos possui uma das mais extraordinárias sequências finais já filmadas.

04
A Famosa Espada Bijomaru (Meito bijomaru) – Kenji Mizoguchi, 1945

Tido por muitos como um mero trabalho de sobrevivência comercial (como ressalta a entrevista com Kaneto Shindo, nos extras da edição francesa em DVD), A Famosa Espada Bijomaru é de um subtexto tão gritante que salta à primeira página: realizado durante a guerra, logo após alguns pares de filmes feitos de acordo com os preceitos estabelecidos pela política de exceção do governo japonês, Mizoguchi filma a estória de um forjador de espadas consumido pelo dilema entre produzir espadas para o Imperador, e espadas que possuam uma alma própria. Em determinado momento, a personagem principal afirma algo como: “Eu e você morreremos, mas as espadas continuarão aí para sempre”. A Famosa Espada Bijomaru vem para afirmar que, na filmografia de um sujeito como Kenji Mizoguchi, os filmes tidos como “menores” não raro dizem muito mais sobre a cegueira crítica diante de suas questões do que sobre seu valor. Em 65 minutos, Kenji Mizoguchi faz um estupendo tratado sobre a responsabilidade e o comprometimento artístico.

05Os Pivetes (Les Mistons) – François Truffaut, 1958

Célebre curta-metragem de Truffaut, realizado naquele que se mostraria seu mais caro ambiente: a idealização do amor jovem. Em seu andar apaixonantemente desconjuntado, Les Mistons é belíssimo justamente por seu trabalho de afetos, por filmar o amor com olhos absolutamente amorosos. Mesmo sendo, ao fim e ao cabo, uma tragédia.

Canções

01 – “Brandy Alexander” – Ron Sexsmith

Finalmente botei pra rodar Exit Strategy For The Soul, novo álbum de Ron Sexsmith. E lá estava ela: uma versão deslumbrante para “Brandy Alexander” – parceria com Leslie Feist, já gravada por ela em The Reminder. Enquanto os arranjos de Feist se seguram na delicadeza do estalar de dedos, Sexsmith cria uma versão pulsante, com metais que vibram com a levada de bateria e violões à Tom Petty. Lá uma das melhores canções já gravadas por Feist; aqui, entre as melhores de Ron Sexsmith. Uma beleza.

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02 – “She’s So Static” – The Joykiller

Sem dúvida a banda mais subestimada em todo o catálogo da Epitaph, o Joykiller foi formado pelos ex-TSOL Jack Grisham (vocais) e Ron Emory (guitarras), em 1995. A banda lançou três discos em três anos, e depois só ouvimos falar novamente de Grisham por uma faixa solo em uma coletânea da Epitaph, e por sua (séria) candidatura ao governo da Califórnia – no mesmo ano do Governator. Static, o segundo disco, é uma obra-prima particularíssima: gravado ao vivo no estúdio, traz 14 canções esmiuçando ansiedades, um Jack Grisham entre Jello Biafra e Frank Sinatra, e um originalíssimo porto entre o punk rock e a lounge music de Burt Bacharach (com direito a pianos e órgãos – ainda mais presentes no seguinte, Three). Ao longo de todo o disco, impressiona a dosagem milimétrica de fúria – “I Don’t Know” e “Nowhere Ever” – e doçura – “Sad”, “White Boy, White Girl”, “Brainless”. “She’s So Static”, porém, é a que parece trazer a melhor dosagem dos ingredientes: bateria afogada em cafeína, riffs de guitarra de um bom gosto extremo, e o irretocável vocal de Grisham – saltando de uma oitava à outra dentro de um só refrão, queimando a melodia em nossa cabeça pelo resto do dia. Como registro, a foto pixelada: o Joykiller anda tão esquecido que encontrar uma foto com mais de 11kb na internet se torna tarefa quase irrealizável.

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03 – “Nuclear” – Ryan Adams

É de um humor inegável perceber que, hoje lançando álbuns oficiais com canções que nunca passam do agradável, em 2002 Ryan Adams lançara um disco de demos com canções tão mais inspiradas. Antes mesmo do irônico RockNRoll, Adams já escrevia – por livre e espontânea vontade – rockões do calibre de “Nuclear”, “Starting To Hurt” e “Gimme A Sign” (das três, a única que sofre consideravelmente pelo registro menos cuidadoso de uma “demo”). Em “Nuclear”, até o reverb mal dosado da caixa de bateria ajuda a construir o clima da canção, fazendo uma cama perfeita para o solo de slides oitavados. A voz de Adams rasgando “This is where the summer ends” é um dos momentos mais fortes de toda sua discografia.

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04 – “Trouble” – Limbeck

Meus sentimentos em relação ao Limbeck sempre se dividiram entre a musicalidade sedutoramente agradável de suas canções, e um irritante simplismo nas letras. É notável, porém, que a banda se torna melhor - em ambos os quesitos - a cada disco. “Trouble” convoca os pés a manterem o ritmo, com um refrão deliciosamente clássico, e uma letra que – menor dos males – não incomoda. Ainda assim, eles deveriam gastar mais dinheiro em livros. Quem sabe eles não aprendam, assim, a lançar um disco que seja sem uma canção sobre estacionamentos.

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05 – “Pearl” – Maritime

Embora eu já tenha escrito mais de uma nota sobre o último disco do Maritime, “Pearl” foi uma das músicas mais presentes por aqui durante essa semana. É a síntese perfeita dos três discos da banda, com uma melodia bonita de doer o peito.

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sexta-feira, setembro 05, 2008

Por trás de todo grande homem

Falando, há cinco minutos, com a Clarissa ao telefone, quando ia contar que os shows do Jesus & Mary Chain e do REM pareciam confirmados:

- Então, parece que duas paradas muito maneiras foram confirmadas pro fim do ano.

E ela, com seu timing em grande forma, rebate:

- O quê? O Natal e a passagem de ano?

quarta-feira, setembro 03, 2008

Top 5 da semana

Filmes

1- Quem Espera por Sapatos de Defunto Morre Descalço – João César Monteiro, 1970

Um dos poucos Monteiros que me faltava assistir, Quem Espera foi rodado antes de Sophia de Mello Breyner Andersen – seu primeiro filme oficial – e tornado segundo por ser lançado um ano depois. Ainda assim, tem uma mágica inaugural que brilha em cada fotograma; e, como não poderia deixar de ser com Monteiro, faz via surpreendente: funciona tanto quanto uma declaração de princípios cinematográficos (no caso do prólogo, absolutamente explícita), quanto como uma análise prévia de sua obra inteira. Visto em retrospecto, Quem Espera termina com a impressão de que, desde aquele primeiro momento, Monteiro tinha plena certeza de todos os lugares que visitaria com sua carreira. E, como sempre, brilham seu texto e suas imagens, como poucos brilharam na vida do cinema.

2 Trovão Tropical (Tropic Thunder) – Ben Stiller, 2008

Guardo considerações mais alongadas para um texto a ser publicado, ainda essa semana, na Cinética. Para os apressados, vale dizer que Trovão Tropical é muito mais do que um filme engraçado pra caralho.

3In Good Company: A Concert Movie – Dennis Fitzgerald, 2006

A epifania pode vir de todo lugar, e, melhor, pode ser induzida de diversas maneiras. In Good Company parecia ser apenas um bom registro de duas noites realizadas por Josh Ritter e banda, na Irlanda – terra onde Ritter parece gozar de maior fama do que nos EUA. Até que, antes de tocar a tradicional “Harbor Lights”, Josh Ritter provoca a platéia, dizendo como seria bacana se eles conseguissem recuperar o “slow dance” naquele show. Uns riem, outros aplaudem; todos esperando que ele volte logo a tocar. Mas ele insiste, convocando que cada pessoa na platéia convide quem está ao seu lado para dançar. Aos poucos, vemos os braços das garotas cruzando atrás dos pescoços dos rapazes, assim como grupos de solitários se abraçam para, em 4 ou 5, dançarem todos juntos. E mesmo se Josh Ritter repetir esse ritual todas as noites, a surpresa que a platéia guarda em sua realização é garantia de que algo novo e maravilhoso pode, de fato, sempre acontecer.

4Amor à Morte (L’Amour à mort) – Alain Resnais, 1984

Em semana de dois Resnais menos inspirados (ainda planejo ver outros quatro antes do fim da mostra), Amor à morte bate com maior força justamente pela surpresa de sua construção: mais do que um filme feito a partir de uma partitura, parece ser uma obra em que a música continua o trajeto desenhado por cada imagem, misturando o registro audiovisual e o musical em uma duração de sentimentos, em uma tradução de meios. Além das transições em flocos brancos que prevêem o fade pra neve de Medos Privados Em Lugares Públicos, o filme tem ao menos outro momento fortíssimo: um tenso diálogo entre Sabine Azéma e Pierre Arditi mergulhado em fundo negro, como se fossem apenas dois rostos flutuando na incerteza da mais profunda escuridão.

5A Vida É Um Romance (La vie est um roman) – Alain Resnais, 1983

Provavelmente o filme menos inspirado de Alain Resnais, A Vida É Um Romance tenta realizar uma operação, a priori, bastante instigante: sobrepor três tempos diferentes sobre um mesmo espaço, pensando a cena como um epilhamento de diferentes subjetividades que, ao longo do tempo, por ali transitaram. Embora seja muito revelador sobre questões menos visíveis na obra do diretor, o filme sofre brutalmente por sua falta de tom: a mistura de comédia, ficção científica, musical, romance e filme histórico parece nunca dar liga. Mesmo em seus melhores momentos, A Vida É Um Romance chama sempre atenção para sua falta de unidade, sua maneira desajeitada de balançar os braços.

Canções

1 – “Foregone Conclusions” – Pedro The Lion

Quando saiu Achilles Heel, passei alguns meses absolutamente viciado no disco. Nunca mais voltei a ele, até que, nos últimos dias, ele retornou, inteirinho, na minha cabeça. Aquele cd-r antigo se perdeu em algum canto do silêncio e, até que ontem decidi baixá-lo novamente, o disco passou a semana sendo cantando apenas em minha cabeça. De todas as faixas, o primeiro novo destaque tornou a ser a imediata favorita da primeiríssima audição: “Foregone Conclusions”. É fato que David Bazan sempre fez música religiosa e, como bom cristão, inflava cada palavra com o peso da crucificação. Surpreendente é que seus diminutos fossem tão absurdamente belos que abrigassem esse peso com algum conforto, cavando buracos em dias em que eu simplesmente não sentia vontade de ouvir mais nada. Embora não tenha a robustez conceitual dos anteriores, Achilles Heel é meu favorito pela consistência absurda das canções: passamos de uma a outra em um fluxo só, em um martírio que ganha ares de purgação. E “Foregone Conclusions” ainda tem uma estrofe de impressionante auto-ironia:

And you were too busy steering the conversation toward the Lord
to hear the voice of the Spirit, begging you to shut the fuck up.
You thought, it must be the devil, trying to make you go astray.
And besides, it could not have been the Lord because you don't believe he talks that way.

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2 – “Monster Ballads” – Josh Ritter

Com a vista do dvd, Josh Ritter voltou a tocar fortemente por aqui. A favorita da semana é a lindíssima “Monster Ballads”, de The Animal Years. Além da marcante melodia, do hammond e do violão que dedilha sem pausas, o que mais me impressiona é como Ritter usa o reverb em sua voz e o hiss da fita como recursos expressivos, musicais, de fato. Pela maneira como foi registrada, “Monster Ballads” deixa de ser apenas uma bela canção, e se torna um caco esquecido de vidas passadas. E ainda me faz lembrar das frequências da minha “Melody” (So grab your mistakes and a frequency to ride / And swim out the weight of the years that come in tides), por pensar as ondas do rádio como o oceano na primeira estrofe:

Radio waves are coming miles and miles
Bringing only empty boats
Whatever feeling they had when they sailed
Somehow slipped out between the notes

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3 – “Little Jane-Marie” – Smoking Popes

Explorando melhor o ótimo Stay Down, outras prediletas vão ganhando corpo. “Little Jane-Marie” é a nova encarnação de um espírito de aparições raras, mas sempre bem vindas aos discos passados dos Popes: as canções infantis. A doçura da melodia é aliada, aqui, a uma letra à “Lucy In The Sky With Diamonds”, em uma fábula fantástica tão surpreendente quanto própria a um disco tão roqueiro. É algo que a banda já havia feito extraordinariamente bem em “Follow The Sound”, “On the Shoulder” e na inesquecível versão de Destination Failure para “Pure Imagination” – tema do primeiro A Fantástica Fábrica de Chocolate.

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4
– “The Spoils of the Spoiled” – The New Amsterdams

Outro vício do passado retomado na atualização do iPod, o New Amsterdams é o projeto indie pop de Matthew Pryor, criado à época em que ele ainda comandava os Get Up Kids. Embora os primeiros discos de sua primeira banda tenham sofrido muito com o passar dos anos – curiosamente, os que melhor sobreviveram são os que mais se parecem com o New Amsterdams – sua vida paralela segue respirando tranquilidade. Worse for the Wear ainda é o meu favorito, talvez por ser o que marcou a crise do processo de composição de Pryor: após lançar, com o New Ams, o acústico Para Toda Vida, e explorar territórios menos esperados com os Get Up Kids em On A Wire, o retorno da formação completa a Worse for the Wear fez suas duas bandas se encontrarem em uma terra de ninguém. O Get Up Kids se tornaria ainda mais parecido com o New Ams com o ótimo Guilt Show, antes de acabar de vez. O projeto paralelo se tornou banda principal e, retomando Worse for the Wear, a decisão parece ser quase natural. É um ótimo disco, tomado de outras canções tão boas quanto a escolhida da semana.

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5 – “A Good Start” – Maria Taylor

Descobri a carreira solo de Maria Taylor – ex-vocalista do Azure Ray – quando o Pandora ainda funcionava aqui em casa, ouvindo a ótima “Clean Getaway”. Em seu primeiro disco, 11:11, Maria acerta mesmo a mão em apenas uma canção: “Speak Easy”, talvez a melhor faixa que ela já gravou até hoje. Em Lynn Teeter Flower, as alegrias são muitas: desde o princípio, com “A Good Start”, passando por “Replay”, “Smile and Wave” e a já citada “Clean Getaway”, Maria realiza um disco sempre agradabilíssimo. “A Good Start” deveria ser hit em toda festa rock que se preze. Aqui em casa, ao menos, sempre bomba a pista.

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